Em continuação da nota de rodapé colocada após a entrevista de Almeida Santos ao Diário de Notícias e que encontra em
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2005/10/almeida_santos_.html
acrescento, pensando nos menos informados e para os que se fazem de esquecidos, a transcrição de dois parágrafos do livro de Ruy Miguel ( ao tempo jornalista do Diário de Notícias) no seu livro "25 de Abril, O Marxismo na Revolução":
"No seu livro "Tempo de Subversão", o conhecido dirigente comunista Carlos Brito, deu preciosas achegas para a nossa tese de que o Movimento dos Capitães primeiro, o Movimento das Forças Armadas depois, foram controlados pelo Partido Comunista Português. E, curiosamente, "lendo nas entrelinhas", o panorama torna-se suficientemente claro para não ter dúvidas.
Recordando um encontro entre as direcções do PCP e do PS recém criado, escreve que: "Foi deste último(encontro Cunhal-Soares) que saiu o importante comunicado conjunto reclamando o fim da guerra colonial e a relização de negociações com vista à independência imediata de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique." e recorda que isso "representava um grande progresso" pois em 1970, em Roma, o representante da ASP recusara "subscrever a defesa do direito à independência imediata dos povos das colónias"."
Estas considerações de Carlos Brito(PCP), só vêm confirmar a notícia seguinte, aliás nunca desmentida:
"REPORTAGEM ESPECIAL
Por John C. Wahnon
Os Secretários-Gerais do Partido Comunista Português (PCP) e Partido Socialista (PS, juntamente com outros membros dos Partidos, reuniram-se em Paris em Maio de 1973 para estudarem as possibilidades de canalizarem o descontentamento então evidente em certos sectores das Forças Armadas Portuguesas no sentido de estruturarem um movimento militar capaz de derrubar o Governo Português. Desde o inicio, o PCP provou ser tão altamente organizado e conhecedor da situação que maravilhou e convenceu o PS a juntar-se ao movimento.
0 PCP tinha fichas detalhadas de todos os oficiais portugueses e contava com um número surpreendente de membros e simpatizantes nas Forças Armadas e nos sectores de Serviço Público. 0 Secretário-Geral do PCP decidiu, contudo, par razões óbvias, que não se aventuraria em certas actividades para evitar que riscasse a posição que tinha adquirido. Portanto, delegou no PS, então praticamente desconhecido e por consequência menos susceptível de causar suspeita, a responsabilidade de fazer o trabalho sujo. 0 PS atacou as medidas do Governo Português enquanto o PCP generosamente financiou as operações. Moscovo, a fonte desses fundos, só impôs uma condição:
- Independência imediata a todas as colónias portuguesas e transferência das respectivas soberanias, sem eleições, aos movimentos pró-russos.
0 Acordo final, respeitante às condições impostas pela Rússia, foi assinado numa reunião a que compareceram cinco comunistas e quatro socialistas, no primeiro andar de um restaurante de Paris adjacente a Farmácia da Ópera. Há quem afirme que o PCP ou o PS, mas não ambos, assinou o acordo final com a Rússia. Seja como for, o acordo tinha duas cláusulas:
1- Entrega de dinheiro: a Rússia contribuiria inicialmente com dois milhões de dólares para financiar a organização do golpe de Estado que derrubaria o Governo Português.
2 - Compromisso: 0 PCP e o PS comprometiam-se a dar Independência imediata às Colónias Portuguesas representadas na Reunião, para a ocasião, pelo PAIGC, MPLA e FRELIMO.
0 que sucedeu em Moçambique, Guiné, Cabo Verde e Angola, foi de tal forma vergonhoso, que os responsáveis pela concessão da independência, só se atreveram a cobrir a sua traição a Portugal, e às populações locais, com loucas generalidades de óbvio cultivo soviético. Os partidos opostos à FRELIMO em Moçambique, ao PAIGC na Guiné e Cabo Verde e ao MPLA em Angola, foram perseguidos e por decisões totalitárias e fascizantes, proibidos de defender os ideais que sustentavam.
In Newsletter Boston, MASS-USA - Agosto de 1976 Volume I- N.º 2."
Voltando ao livro atrás referido, de Ruy Miguel, aproveito para transcrever mais o seguinte:
"O 25 de Abril foi um autêntico "jogo de guerra". Jogou-se com o factor psicológico, com a falta de comando (por vontade de Marcello) e, portanto, com a falta de reacção das tropas que, disciplinadamente aguardaram ordens para sair dos quartéis.
Vem a propósito recordar que, o Comandante da Região Militar de Tomar apenas se rendeu ao fim da manhã do dia 26 de Abril.
Tanto os carros de combate como os soldados que participaram no "golpe" não dispunham de munições reais. Só ao fim da tarde, já depois da saída de Marcello do Carmo, andaram camionetas a distribuir munições.
Salgueiro Maia, o falecido capitão de Cavalaria, que avançou de Santarém, com carros de combate, infelizmente já não pode responder à pergunta: quem lhe terá dito que não encontraria oposição de fogo, em Lisboa, à qual não poderia responder com as suas granadas de instrução?
Quem o teria informado? O comando do MFA, o PCP, ou tratou-se apenas de "um espírito santo de orelha"? Estou firmemente convencido que Salgueiro Maia tinha a certeza que as forças leais ao Governo não abririam fogo sobre si e os seus soldados."
Será que Almeida Santos se lembrou destes factos para o seu livro? Ou Mário Soares o lembrará? Ou serão irrelevantes?
Fernando Gil