Carlos Queiróz, treinador adjunto do Manchester United, está em Moçambique, o seu país natal.
Ele viaja com o Serviço Mundial da BBC, para realizar um documentário sobre o poder do futebol, como força possível para a mudança social.
Durante a sua viagem, Carlos Queiróz vai manter um registo diário da sua visita a Moçambique.
QUARTA-FEIRA - QUINTA-FEIRA
Visitámos a Ilha de Moçambique, uma pequena ilha na costa do noroeste do país, onde passei grande parte da minha infância.
Quando tinha seis e sete anos, passava o dia inteior a jogar futebol na praia.
Não mudou quase nada - os miúdos continuam aqui, a jogar descalços como eu fazia à 40 anos atrás.
Parei na rua em que eu costumava jogar futebol. Os miúdos tinham feito a bola com que brincavam, usando corda para manter juntas as coisas que encontravam na rua.
A Ilha de Moçambique costumava ser habitada por 5 mil pessoas. Hoje existem perto de 20 mil a viver aqui, e a ilha tem população a mais.
Muitos fugiram para este lugar durante a guerra civil no território continental, e não pretendem voltar.
Vivem aqui em condiçõe terríveis. A grande parte não tem água corrente nem saneamento básico, as crianças correm grande riscos de contrair doenças.
Também não têm nada para fazer. Com o desespero da pobreza, aparecem fenómenos como os gangues e o crime.
É por isso que existe um projecto de futebol que vai ser iniciado para manter os miúdos activos e envolvidos na educação.
Assim que a bola começa a rolar, os sorrisos regressam à cara das crianças.
DOMINGO - SEGUNDA FEIRA
Para os restantes colegas do Manchester United, foi uma viagem relativamente pequena de regresso a Manchester, depois da nossa vitória por 3 a 2 contra o Fulham de Londres.
A minha viagem era entretanto mais longa, fui directamente para o táxi e 18 horas depois, estava a aterrar num avião em Moçambique.
Normalmente regresso com regularidade a Moçambique, mas desta vez é especial na medida em que estou com a BBC, que tem o poder de atingir milhões de pessoas em todo o mundo.
Quando se está longe de Àfrica, por algum tempo, por vezes tem-se a sensação de ter perdido o contacto com as raízes, mas assim que cheguei e saí do avião, foi como voltar 30 anos para trás.
Aqui em Moçambique, o futebol não é apenas paixão, pode igualmente juntar as pessoas e ajudar a ultrapassar muitos desafios diferentes.
Assim, para iniciar a nossa visita, demos uma conferência de imprensa em Maputo e embarcamos num võo para Nampula, a minha terra natal, no norte de Moçambique, onde começou a minha carreira futebolística.
MOZMUNDO - 15.10.2005