Por mais voltas que eu possa dar, não consigo perdoar esta dura realidade e fingir que entre nós, anda tudo bem, pois não sou desses meninos ingénuos e distraídos que infelizmente pululam neste País.
O intróito vem a-propósito da fuga para Portugal do empresário luso Amadeu Costa Oliveira, sócio da fábrica de serração Macaloe que operava em Cabo Delgado.
Rezam abundantes crónicas da Imprensa recente do país que Oliveira fora detido no dia 26 de Agosto do ano em curso em Pemba, por devidas ordens do Procurador Provincial Sérgio Reis, na sequência de queixas de vários prejudicados, a quem Oliveira devia milhares de dólares por pagamentos não efectuados.
Fala-se de mais de 60 mil dólares que Oliveira deve a parceiros na lucrativa actividade madeireira e cansados do “volta amanhã” e de cheques carecas, os lesados decidiram recorrer à Justiça para
ver se o devido era lhes pago.
Só que, no lugar de o devedor pagar, este saiu em liberdade que devia ser condicional mas não foi; deu-se ao luxo de insultar magistrados moçambicanos- ele que é estrangeiro- e pôs-se ao fresco.
Segundo se soube, a libertação do português deu-se depois de uma intervenção do dr. Albano Silva, ele que mais uma vez aparece a fechar de forma “brilhante” um processo nebuloso a favor de um suspeito de prática criminosa, ainda por cima estrangeiro.
A pedido de facto de Albano Silva, o português conseguiu a liberdade nos termos da Lei, tendo pago a respectiva caução para aguardar procedimentos posteriores sob termo de Identidade e residência.
Exigia-se assim que Oliveira estivesse em Pemba a aguardar desfecho judicial do caso em permanente contacto com as autoridades judiciais do País, circulando informações contraditórias para se saber se os seus documentos, nomeadamente passaporte, terão ficado com ele ou com as autoridades judiciais de Cabo Delgado.
Seja como for, no lugar de aguardar, o português veio a Maputo onde movimentou o lobie que nos recorda exactamente a máfia, um lobie que desaguou no semanário “Domingo”, onde ele vira o feitiço, espalha confusão, insulta magistrados, nada prova e foge com o rabo em frente.
Oliveira diz que afinal está a ser perseguido e preso não por dívidas comprovadas, mas por ser vítima de extorsão. Na bela reportagem da lavra de Augusto de Carvalho, não abundam provas mas insiste que 20 mil dólares americanos foram lhe extorquidos pelo Juiz Presidente do tribunal de Cabo Delgado, a juiza Hirundina, o Procurador Provincial Sérgio Reis e dois técnicos jurídicos.
Acusação grave sem dúvida, para trabalhadores da Justiça que como se sabe, é um sector que não navega em boas águas.
Só que enquanto a praça espera novos e aliciantes desenvolvimentos, nomeadamente, detalhes para saber como e porquê a extorsão, o acusador principal, o tal que apenas é vítima, foge do país sem deixar rastos.
Amadeu Costa Oliveira fugiu, ao que se diz e até que ele prove em contrário com documentos falsos, não havendo garantias de que ele alguma vez volte a este País para resolver os problemas pendentes contra ele na Justiça moçambicana.
E por mais estranho que pareça, nesta história, abunda na sombra o nome do nosso amigo Albano Silva, o tal que grita aos quatro ventos que ele é um imaculado, que não tem telhados de vidro, que nunca defendeu bandidos, que ele quando aceita defender alguém, é porque tem a certeza de que o processo terá desfecho limpo; que ele não resolve os problemas pela porta de cavalo, que os seus casos não arrastam polémicas; que... eu... eu... eu!
Sendo que este é mais um caso em que um cliente de Albano Silva sai em liberdade condicional de uma cadeia e foge, não se pode esperar por mais um episódio para concluir que de facto este País funciona de acordo com as influências de cada grupo ou de indivíduos.
Seria bom se coragem existisse no advogado de Oliveira que Albano Silva aparecesse agora em público a dizer onde está o seu bom cliente e porquê não acusa os magistrados que acusou no “Domingo” permanecendo no País.
Ora se ele é preso e é vítima de extorsão de tanto dinheiro, é justo e correcto que esteja por cá a fazer todo o barulho para se defender e para que os oficiais referidos sejam responsabilizados.
Acusar e depois fugir, afigura-se como jogo de gangsterismo que infelizmente, teve, mais uma vez, a protecção de Albano Silva.
Não é a primeira vez que Albano Silva “arranja” este tipo de saídas para clientes seus altamente suspeitos.
Numa outra ocasião, usou a mesma estratégia para safar um italiano, falso dentista que criou danos em maxilares de pacientes, foi denunciado, foi preso mas com a “mão” do ilustre, saiu em liberdade condicional.
Contra todas as expectativas, contra todos os cuidados incluindo da drª Isabel Rupia o dito dentista, cliente de Albano acabou fugindo, considerando-se assim encerrado o assunto.
Isto não seria grave e nem teria nada a ver com o advogado se ele não se considerasse imaculado; se ele não contribuisse- como foi o caso agora em Cabo Delgado- para se denegrir a imagem de colegas juristas seus.
Aconselharia o seu cliente a ficar cá dentro e a defender-se. Ai sim seria de facto o advogado de causas justas.
É porque a continuarem assim as coisas, não mais daremos ouvidos a um homem que por onde passa chama a si o exemplo de integridade, de transparência e nota zero de incorruptabilidade, chamando nomes a colegas, a jornalistas, a polícias e tudo o mais.
Com Oliveira ou Lacopo em fuga, sobra sempre a ideia de que “há gente acima da Lei”, em contraste, para pena dele, do Procurador-geral da República, Dr. Joaquim Madeira, que ainda pensa que a sua bonita frase faz sentido ainda.
E vão pensando que o trabalho se constrói com frases bonitas, com aparências de cidadãos limpos quando na verdade nem dormem em paz e passam a vida a mandar recados para nós usando intermediários. Com medo de quê?
Bem me dizia Carlos Cardoso: “Jossias estes gajos andam em carros reluzentes, estão cheios de dinheiro, de palácios e tudo mas não dormem. Têm muitos problemas consigo próprios”...
O problema é que tais problemas sobram para as contas do País.
Lourenço Jossias - ZAMBEZE - 05.10.2005