Mais de 60 antigos dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no poder, criticam duramente o actual líder, o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, acusando-o de “antidemocrático e de irresponsabilidade política”. Numa declaração lida por um dos históricos e mais carismáticos dirigentes, Manuel dos Santos, conhecido localmente por ‘Manecas’, os signatários, todos apoiantes do recém-empossado presidente ‘Nino’ Vieira, afirmam que o PAIGC vive a sua maior crise de sempre.“A crise interna que o partido atravessa resulta da forma antidemocrática, irresponsável como têm sido conduzidas as acções no seio do PAIGC pelos seus órgãos estatutários e, em particular, pelo seu presidente Carlos Gomes Júnior”, lê-se no documento.
Na declaração, a ‘velha guarda’ do partido sublinha que a crise é consequência directa do último congresso, realizado em 2002, “que dotou o PAIGC de órgãos inoperantes”. No documento, os antigos dirigentes lembram que, nas eleições legislativas do ano passado, em que o partido saiu vencedor, “todos (os que agora criticam a actual direcção) cerraram fileiras”, esquecendo diferenças e divergências. “E são agora esses mesmos dirigentes e militantes que hoje se posicionam para dizer basta à arbitrariedade, injustiça, irresponsabilidade e incompetência que está a conduzir o PAIGC a um abismo de traição das suas responsabilidades históricas.”
FUGA DE DEPUTADOS
Solidarizando-se com os 14 dos 45 deputados que passaram a independentes, abandonando a bancada parlamentar do PAIGC, os ex-dirigentes pedem à actual direcção que “deixe de desrespeitar” o “pai” das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Amílcar Cabral, pois está a “servir propósitos mesquinhos e inconfessáveis” que minam o partido por dentro. Instado a comentar essa declaração política, Carlos Gomes Júnior afirmou que nada tem, “para já”, a declarar, reservando uma resposta para a próxima semana.
Hélder Proença, um dos deputados independentes e ex-mandatário da campanha presidencial de ‘Nino’ Vieira, adiantou ontem ao CM que “o grupo dos 14 dissidentes assinaram um acordo parlamentar com os 35 deputados do Partido da Renovação Social (PRS), com sete do Partido Unido Social-Democrata (PUSD), de Francisco Fadul, e dois da União Eleitoral, formando assim a nova maioria na Assembleia Nacional”. O PRS, na oposição, já exigiu a demissão do governo.
Para Hélder Proença, “com a dissidência destes 14 dos 45 deputados do PAICG, abre-se caminho à apresentação no parlamento de uma moção de censura ao governo”. A sessão legislativa começa em Novembro e deverá ser dedicada aos debates sobre o Orçamento Geral do Estado para 2006, sendo este o primeiro teste do governo após a dissidência dos 14 deputados.