MediaFAX está na posse de documentação que indicia tal facto
Maputo- O falecido presidente Samora Machel, tinha o Malawi, como alvo de guerra para derrotar o então MRN (Movimento de Resistência Nacional), então denominado oficialmente por bandidos armados.
De recordar que o Malawi nessa altura era um importante bastião do movimento de Afonso Dhlakama, no seu combate contra o Governo liderado pela Frelimo.
De acordo com alguns documentos recuperados em Mbuzini, local onde despenhou o avião presidencial, cujas cópias estão em poder do mediaFAX, na véspera dos factos, mais concretamente em 16 de Outubro de 1986, Samora reuniu-se com uma delegação zimbabweana em Maputo, para traçar-se a respectiva estratégia.
No encontro em que a delegação zimbabweana era chefiada por E. D. Munangagwa, então ministro da Defesa, Samora traçou uma estratégia que assentava em duas saídas.
A primeira, com o envolvimento do Zimbabwe, consistia em persuadir o Malawi a aceitar que as FPLM (Forças Populares de Libertação de Moçambique) fizessem um desdobramento Zambézia/Tete/Zambézia através do seu território na luta contra os guerrilheiros do MRN, actualmente Renamo.
Segundo Samora só assim o Malawi iria provar não ser inimigo.
“Essa é a maior prova de que ele (Malawi) não é a base do inimigo, prova evidente de que não quer guerra em Moçambique”, disse Samora nesse encontro.
O plano incluía ainda a permissão do trãnsito de militares zimbabweanos pelo Malawi em direcção a Moçambique no seu apoio às FPLM.
Por outro lado, o Malawi deveria participar na protecção das colunas de camiões no corredor, Beira/Chimoio/Tete/Malawi.
“Esta é a parte política, e, só pode ser feita por gente da segurança e contrainteligência”, defendeu Samora na reunião.
A segunda saída que devia ser em paralelo com a outra era derrubar o governo de Kamuzu Banda, então presidente do Malawi e colocar nova liderança.
“Moçambique e Zimbabwe devem descobrir nova força no Malawi. Banda está gasto. Não deixemos a África do Sul colocar a direcção no Malawi. Não deixemos os ingleses, os americanos, a RFA (República Federal da Alemanha) escolher os líderes para o Malawi”.
“Ganhemos o povo inteiro do Malawi todo”. “Ganhemos a maioria”. “Aqui estamos a seguir a teoria de Mão Tsé Tung: ganhar a maioria, isolar a minoria e aniquilar um por um”, argumentava Samora Machel.
No plano defendido por Samora , este advogava que também devia-se “organizar uma frente de libertação do Malawi, equipar e infiltrar no Malawi para liquidar os bandidos lá”.
“O melhor combate é transferir a guerra da tua zona para a do inimigo e fazer dela uma carreira de tiro”.
“No boxe mexemos o inimigo com a mão esquerda, para apanhar uma abertura e dar o golpe final: na boca do estômago (o adversário vai-se dobrar três vezes)”, disse Samora nessa reunião que teve lugar três dias antes da sua morte, um encontro em que Samora fez questão de mandar fora da sala do encontro o embaixador do Zimbabwe em Maputo, H. E. M. Vundura.
(JC).
MEDIA FAX – 31.10.2005