O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano, decidiu vir a público semana passada emitir opiniões polémicas.
Apesar de se lhe assistir o direito à livre emissão das suas ideias agora que está fora do exercício do cargo mais poderoso de Moçambique, Chissano devia ponderar e muito sobre o que dizer a cada momento, sob pena de se redicularizar aos olhos de um País a quem serviu com o melhor de sí.
Porém, o que disse semana passada, a continuar a dizê-lo, correrá o risco de levantar ondas e inspirar os muitos que no seu próprio partido, querem ardentemente levantar fantasmas.
Não seria bom que esses fantasmas fossem levantados porque criariam distúrbios na concentração de esforços para o cumprimento do programa da Frelimo que é o de combater a pobreza, a criminalidade e o espírito de “deixa-andar”.
Basicamente, Joaquim Chissano fez duas abordagens polémicas semana passada que para alguns de nós não podem passar em branco, sob pena de se tornarem moda e distrairem o País. Para que conste, aqui ficam algumas opiniões meramente pessoais:
Sobre quem esteve ou não no “deixa-Andar”...
Em declações reproduzidas pela STV, Joaquim Chissano foi contraditório quando se quis referir ao combate que é correcto que seja feito ao espíirito do “deixa-andar”.
Começou por querer “saltar”, como quem diz que nunca houve “deixa-andar” nos regimes por si dirigidos. Logo apercebeu-se que tinha que admitir “meia-culpa” mas disse que “sim houve algum tempo que deixamos andar”.
Logo a seguir, revelou que o próprio Guebuza (o actual PR) tinha feito parte dos Governos do “deixa-andar”, num esforço que mais não visa do que distrair a opinião pública, dividir a já dividida Frelimo e criar confusão entre os incautos.
Em nossa modesta opinião, se nas próximas vezes quiser se referir a isso (à matéria sobre o deixa-andar), o antigo PR deve manter a linha e a coerência do que disse em Malehice, a 23 de Abril do ano que agora vai terminar quando lá fomos o receber na pomposa festa do seu regresso à terra natal.
Disse ele que o programa que Guebuza está a cumprir foi aprovado pela Frelimo quando ele, Chissano, ainda era presidente do País e do partido.
A missão que todos temos, disse ele é apoiar “o camarada Guebuza a implementar o programa que foi aprovado”, pois constatou-se que havia muito desleixo, burocratismo e tantos males no Aaparelho do Estado e no País em geral.
“Vimos que era preciso corrigir”, disse ele na sua terra natal.
Por conseguinte, não fica bem a um antigo Presidente aparecer agora a lançar linhas de penumbras em discursos sobre temas sensíveis, quando sabe perfeitamente o que motivou o combate ao tal espírito.
Todos sabemos e reconhecemos que o “deixa-andar” aconteceu em várias ocasiões sensíveis da História do nosso País, apenas porque o PR não quis ou não soube tomar decisões no momento certo por razões que só ele sabe. Dizer que Guebuza, ou Matsinha ou Chipande estavam lá não é mentira mas isso não significa absolutamente nada.
Sabemos que em várias ocasiões, a Comissão Política da Frelimo que é um órgão que decide neste Pais tomou decisões cuja implementação cabia única e exclusivamente ao PR, salvaguardados os seus poderes constitucionais.
Mas sabemos que muitas dessas decisões ficaram a aguardar despacho que nunca saiu. Que papel teria, então, um Matsinha, um Chipande ou um Guebuza nisso? O PR é único no nossos sistema político.
Ninguém nos deu o mandato para sair em defesa de quem quer que seja, mas apelamos ao bom senso de Chissano e dos seus conselheiros para que não lancem farpas, pois as vespas que abundam lá dentro da Frelimo podem saltar e começar as suas mordidelas e o país, infelizmente, não ganhará nada com isso.
O Presidente Armando Guebuza que está a governar há menos de um ano, tem e terá, necessariamente, os seus problemas que serão matéria de debate público.
Temos que ter consciência, porém, de que ele está a fazer um esforço tremendo para a moralização da Função Pública e para pôr o funcionário ou dirigente público a saberem, de uma vez por todas, que foram eleitos ou nomeados para servir e não o contrário.
Sobre os jornais de sobrevivência
Quis Joaquim Chissano vir a público lançar também farpas sobre os jornais, nomeadamente os privados, aonde aparece agora a notar aspectos negativos que vão desde sensacionalismo, falta de ética e busca constante de subsistência, como se isso fosse mau num País miserável destes. Não nomeaou nenhum, para que razões lhe fossem dadas.
Joaquim Chissano que conhecemos há mais de 18 anos, não é aquele que lançou estas bocas na semana passada. O outro Chissano, PR é verdade, era grande aliado da comunicação, independentemente dos erros e das asneiras que reconhecemos, são muitos e às vezes graves.
Mas o país, a região e o Mundo têm boas referências do jornalismo moçambicano, nomeadamente do privado e Chissano quis marcar diferença destoando e pondo nódoa numa área que ele próprio ajudou a construir.
Não se lembrou ele que esses jornais privados de que fala empregam moçambicanos, contribuindo para a redução da taxa de desemprego; não se lembrou o antigo PR que esses jornais pagam impostos para fazê-lo se locomover nas suas luxuosas viaturas de um lado para o outro; não se lembrou que esses jornais foram lhe aliados quando estava em causa defender que a Democracia e o pluralismo eram um facto em Moçambique nas suas longas discussões com os patrões estrangeiros.
Falou de jornais que são criados para a subsistência dos seus “mentores”. E isso parece crime num País onde muitos dos que não querem ir ao gangsterismo lutam pela subsistência ou sobrevivência. Que mal há nisso? Queria que se fizesse o quê o Presidente Chissano?
Que os jornais privados fossem ricos e pujantes? Que fez para isso o Estado? Que facilidades criou o Estado para que não passassem de jornais de subsistência dos seus mentores?
Afinal? A gente a pensar que é útil para a sua família, para os seus colegas, para o Estado que recebe impostos, para os parceiros como gráficas, agências de publicidade, transportadoras, ardinas e outros quando na verdade “são jornais apenas criados para a subsistência dos seus mentores”? É este o verdadeiro pensamento de Chissano? Andou escondindo e bem, não é?
Depois do debate que se instalou nas mesas de café sobre estes posicionamentos de Chissano, legitimamente, alguns proprietários de jornais descobriram o mote da zanga do antigo PR: o facto de os jornais privados não terem hesitado quando sentiram que havia notícias por cheirar na sua própria casa.
Em alguns momentos, tais notícias foram bem cheiradas, mas em outros o trabalho nem sempre foi correcto, mas isso não implica que os visados ou o visado, venha agora manifestar a sua ira com leituras injustas e infelizes e ainda por cima generalizadas.
O Presidente Chissano tem o direito de estar zangado com a Imprensa que lhe chegou à casa e perturbou o seu sossego familiar, mas deve assumir isso como precalços do destino.
O País também teve danos irreparáveis com as tantas e tantas alegações que giram ou giraram em volta do seu filho, não sendo bastante a zanga com a Imprensa privada.
Uma das saídas para que essa espinha seja tirada da garganta é fazer tudo o que estiver ao seu alcance enquanto influente antigo PR, para esclarecer, de vez, as alegações que mancham o miúdo de forma limpa e transparente. Ai sim, talvez a Imprensa poderá se penitenciar.
Sobre as reaparições
Parece ter pegado moda os conselheiros do antigo “dono da caneta” aceitarem que ele vá discursar em tudo o que é evento.
Foi às Jornadas da RM, agora vai às Jornadas na Academia de Ciências Policiais, depois irá a outras tantas, num frenesim que parece denotar défice de algum protagonismo.
Não estamos contra as suas aparições, mas também achamos que não sendo qualquer um, Chissano deve ser resguardado para ocasiões próprias e não ser banalizado nem metido em rotinas por organizações muitas vezes embuidas de puro oportunismo para usarem figuras credíveis como ele.
A era Joaquim Chissano terminou em Fevereiro de 2005 e foi bonito acompanharmos tudo desde as cerimónias na Praça da Independência e na Ponta Vermelha com a entrega das chaves e tudo.
O resto é cada um estar no seu cantinho, dar o seu melhor para este País correr porque não é mentira que há que acertar o passo e combater o “espírito de deixa-andar” que existe, não importa de quem seja o seu timoneiro.
Lourenço Jossias - ZAMBEZE - 07.10.2005