Rafael Shikhani
HOJE, passados quarenta e tais anos desde as independências africanas, que leitura se pode fazer do período pós-independência? No contexto da Bipolarização, sem entrar necessariamente na Guerra Fria, o panorama político africano era dominado pelo sentimento e ideologia, vamos assim considerar, do Não-Alinhamento. Este, associado a outras correntes, tornou-se um importante catalisador da fundação da OUA. Em termos cronológicos e de uma forma bastante resumida podemos estabelecer dois grandes momentos na história recente do continente africano.
O primeiro vai das independências ao fim da Guerra Fria (1989, Queda do Muro de Berlim) e nele temos uma África recém independente e com alguma normalidade política, económica e social, mercê da herança das estruturas económicas coloniais, e alguma condescendência nos termos de trocas comerciais a nível mundial e, politicamente, progressista. Este período caracteriza-se sobretudo pela bipolarização que determina a vida ideológica, política, económica e social do mundo de então. No final desaparecem os movimentos progressistas e o continente fica à deriva.
O segundo vai do pós Guerra Fria aos dias de hoje, onde os antigos regimes são postos em causa e em alguns casos contestados de forma extremamente violenta, Neste período caem alguns ícones das elites libertadoras de África e são introduzidos novos elementos políticos (democracia, multipartidarismo) e económicos (ajuda e programas de reajustamento estrutural).
Se tivermos em conta o ideário das independências e analisarmos os períodos referidos, havemos de convir que muitos elementos concorreram para desvirtuar esse ideário. Ora vejamos: em muitos casos o processo não passou de uma mudança cosmética do opressor. Muito rapidamente foram-se desenvolvendo elites políticas cujo objectivo principal era única e exclusivamente a conquista do poder político. Será difícil esquecermo-nos de pessoas como Jean Bedel Bokassa, Idi Amin Dada, Mobutu Sesse Seko, Éden Kodjo, Sekou Touré, Mohamed Siad Barre, numa lista interminável na qual perfilam ainda alguns vivos. As independências não foram suficientes, ainda, para criar nos africanos (a nível nacional e continental) uma personalidade nacional, um espírito de igualdade, unidade e pertença a um país (primeiro) e a um continente (segundo).
Muito embora existam dois conceitos que mudaram a vida do continente e do mundo, Independência e Democratização, muitas nações africanas são hoje uma péssima e lastimosa sombra do que foram outrora. As classes políticas não estão comprometidas com o desenvolvimento, preocupando-se mais com o enriquecimento pessoal. E o (pseudo) sistema democrático que se usa no continente (com algumas excepções) não passa de um modelo que permite uma rotação periódica de dirigentes corruptos e o agravamento da situação do continente.
REVISTA MAIS(Maputo) – JUNHO2005