Foi a 22 de Novembro à noite, que assisti na STV, um canal de televisão independente em Maputo, à transmissão de um debate sobre o desastre de Mbuzini. Conduzido por Felisberto Langa, o debate teve como participantes João Cabrita, autor do livro recentemente publicado, A Morte de Samora Machel, e Paul Fauvet, um jornalista britânico radicado em Moçambique desde os anos 80. Os erros da tripulação do Tupolev presidencial, que Fauvet pretendeu subestimar, dando realce ao factor destabilização movido pelo antigo regime de Pretória contra os Estados membros da SADC, foram defendidos por Cabrita como a causa do desastre que vitimou o Presidente Machel. A certo passo, Cabrita foi peremptório: “Os que defendem a tese de sabotagem têm de encontrar uma outra explicação porque a história do VOR falso não pega.” E para demonstrar o seu ponto de vista, Cabrita fez uma revelação: “A Embaixada da União Soviética aqui em Maputo exerceu pressões sobre o Comandante Sá Marques das LAM para que ele mentisse à comissão de inquérito, dizendo que a sua aeronave, um Boeing 737, que seguia da Beira para Maputo quando se de seu desastre, também havia sido desviada da rota por acção do alegado VOR falso. Por se ter recusado a mentir à comissão de inquérito, o Comandante Sá Marques teve de abandonar Moçambique em face das pressões de que foi alvo.” Cabrita disse-me mais tarde, quando me encontrei com ele no hotel onde eu estava hospedado, que as pressões sobre Sá Marques foram exercidas por intermédio do Ministério da Segurança, na altura chefiado por Sérgio Vieira.
Fernando Gil