D. Jaime, Presidente da C.E.M.:
"Breve relatório da participação da Igreja Católica na 8ª. Sessão da
Assembleia Nacional Popular (Maputo, 6-9 Outubro de 1981; participantes.
D. Jaime e P. Joaquim Mabuiangue)".
Reservado aos Bispos e Superiores(as) dos Institutos; não se publique.
"Desta vez o convite foi-nos feito para participar na Sessão de abertura e
encerramento. Não tomamos parte nos grupos de estudo: tanto no discurso de
abertura como no de encerramento não houve nada que se referisse à Igreja.
Tudo estava centrado no Plano Prospectivo Indicativo. A referência à
Igreja foi feita na recepção final no Palácio da Ponta Vermelha. Para esta recepção
foi tambem convidado o Senhor Arcebispo.
Durante o banquete o Presidente da República fez três discursos.
(.)
2º discurso
(.)
- Sabe D. Jaime, eu vou a Italia. Saio daqui no dia 13 e estou là no dia 14.
Vou visitar o povo e o Governo italianos. Mas não vou visitar o Papa. Não
vou ao Vaticano. Tenho o escritório cheio de cartas que me aconselham a ir
falar com o Papa. Falar o quê? Alguns italianos estão aqui, foram enviados
para me convencer de ir ter com o Papa. Dizem que seria bom ir ter com o
Papa dada a compreensão e a aproximação da Igreja e Estado de Moçambique.
Eu não estou a aproximar-me do Papa, mas sim dos Bispos Moçambicanos. Os
nossos problemas devem ser resolvidos aqui. Se eu for ao Vaticano como e onde me vai receber o Papa. Na Igreja, na biblioteca, vou beijar o anel, como vai ser isto?
- De joelhos, respondeu o Chipande.
- Chipande, não fales, ordenou o Presidente que continuou tendo a mão esquerda no bolso.
Não vou falar com o Papa. Eu sou Chefe de Estado, Presidente da República
Popular de Moçambique, o Comité Politico Permanente da Frelimo nomeou-me
Marechal de Moçambique. O Comité Central constitiu-me Comandante em chefe
das Forças Armadas de Moçambique.
Acima de mim só está Deus, se ele existe. Repito, acima de mim está Deus,
se ele existe.
- E como ele não existe. - acrescentou Marcelino dos Santos, com voz pesada.
O Presidente fez uma pausa inesperada e prosseguiu com voz grave:
- Senhor P. Joaquim, D. Jaime e D. Alexandre, não tomem a sério o que disse Marcelino dos Santos. Repito não tomem a sério o que disse Marcelino dos Santos.
E continuou:
FONTE: Primeiro publicado (em ingles)em:
Eric Morier-Genoud, «Of God and Caesar. The Relation between Christian Churches & the State in post-colonial Mozambique, 1974-1981», Le Fait Missionnaire (Lausanne), September 1996, 79p.