O Presidente da República, Jorge Sampaio, garantiu hoje que existe "vontade política" para resolver a passagem do controlo da Hidroeléctrica de Cahora Bassa para Moçambique, faltando apenas resolver os detalhes com a rapidez necessária.
Em conferência de imprensa conjunta após um encontro com o seu homólogo moçambicano, Armando Guebuza, Sampaio disse estar "informado detalhadamente" sobre "progressos negociais significativos" e manifestou-se "optimista" quanto à possibilidade de, "num futuro próximo", se encerrar "este capítulo velho de 30 anos".
Por seu lado, o Presidente moçambicano destacou a "urgência" de solucionar a questão de Cahora Bassa, "extremamente importante para Moçambique dar o salto em frente".
Guebuza, que iniciou hoje uma visita oficial de três dias a Portugal, manifestou a esperança de regressar a Moçambique com "sinais mais concretos", por sentir a vontade do governo português de "solucionar o problema o mais rapidamente possível".
Os dois países já chegaram a acordo para a reversão para Moçambique da maioria do capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), actualmente detida em 82 por cento por Portugal, mas está ainda a ser negociado o acordo para a alteração da composição accionista, nomeadamente a indemnização de 1,8 mil milhões de euros pela construção e manutenção da barragem.
Jorge Sampaio destacou que a "nova estabilidade" política em Portugal poderá permitir um avanço nas negociações, que foram afectadas "por haver várias mudanças de governo e titulares dos pelouros" relacionados com o processo.
Neste sentido, o chefe de Estado português referiu que as negociações estão numa "fase intensa, nova", acrescentando que é preciso encontrar "soluções aceitáveis para ambas as partes, realistas e projectar as coisas para o futuro e para encontrar novas vias de cooperação nesta área (energia)".
"Estamos na iminência de encontrar o caminho mas isso depende dos dois governos", disse Sampaio, ressalvando no entanto que não pode "avançar um calendário" e que "não pode haver precipitações que podem ser lesivas para os dois países".
Na questão de uma data provável para um acordo final, Guebuza ainda se interrogou se demoraria "uma semana, um ano", ao que Sampaio respondeu de imediato: "Um ano é demais".
Sampaio afirmou ainda ter discutido com Guebuza as relações entre os dois países, destacando o "momento de uma nova página" nesta área e o interesse num "salto qualitativo sobretudo ao nível económico e financeiro".
Aludindo à comitiva de 40 empresários que acompanha o chefe de Estado moçambicano nesta visita, Sampaio manifestou a esperança de que os contactos "possam ter um franco desenvolvimento benéfico para ambos os países.
Por seu lado, Guebuza confirmou que um dos objectivos desta visita é a "atracção de investimentos portugueses a Moçambique".
Os dois presidentes discutiram ainda a realização da II Cimeira África-Europa, prevista para 2003 em Lisboa mas adiada "sine die" devido ao protesto de alguns líderes europeus pela participação no encontro do presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, cujo regime é acusado de violações dos direitos humanos.
"Estamos empenhados para que se possa realizar e ver se conseguimos ultrapassar os obstáculos pesados que estão à nossa frente", afirmou o chefe de Estado português.
O programa da visita de Guebuza para hoje inclui ainda uma deslocação à Assembleia da República e uma visita à Câmara Municipal de Lisboa, onde recebe as chaves da cidade. À noite, o presidente moçambicano participa num banquete que lhe é oferecido por Sampaio. Durante esta visita será assinado entre os dois países o Programa Anual de Cooperação, orçado em 19,6 milhões de Euros, após o encontro de Guebuza com o primeiro-ministro português, José Sócrates, previsto para quarta-feira em Sintra.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 31.10.2005