Está neste momento a decorrer em Maputo o Congresso das Agências de Viagens e Turismo de Portugal, com cerca de quinhentos participantes. Tendo o MOÇAMBIQUE PARA TODOS estado em Moçambique de 9 a 24 do corrente mês, além dos saborosos camarões que “deixam sem fôlego qualquer um”, segundo Eneias Comiche e em que “a natureza nos brindou com uma longa costa de águas cristalinas, que se completa com uma riquíssima fauna” no dizer de Luísa Diogo, que mais tem feito o governo de Moçambique para atrair turistas de todo o mundo? Sendo a “combinação de selva e mar um produto turístico único”, como acrescentou a Primeira Ministra, como conjugá-los? Do que há poucos dias vimos e sentimos, podemos concluir que não basta ao turista pequenas “ilhas” de bem-estar e prazer. O turista certamente quer conhecer o País, a sua história e as suas gentes. E o “sorriso” de famintos não ajuda! Mas há sempre um sorriso… A história de Moçambique, que não começou em 1975, está a ser paulatinamente destruída. Veja-se o que se passa com o Forte de Jerónimo Romero em Pemba, com a Fortaleza e outros monumentos da Ilha de Moçambique, com a Igreja da Cabaceira Grande (primeiro templo católico no continente na costa oriental de África), com o palácio de verão dos governadores de Moçambique de 1795, igualmente na Cabaceira, com o Museu Nacional de Etnologia em Nampula, com o acesso às reservas do Parque Nacional da Gorongoza ou do Maputo, entre muitos outros. Será que o Parque Transfronteiriço irá ter estrada capaz na entrada moçambicana? Porque não seguir o exemplo de Macau, onde a China reabilitou todo o património histórico legado por Portugal, sendo esta a segunda maior atracção turística a seguir aos casinos. E o está a fazer CaboVerde. No dia 19 de Novembro passado fiz a ligação, pela LAM, de Nampula a Maputo, sendo que o avião vinha de Lichinga. Qualquer turista, não muito exigente, reclamaria do cheiro nauseabundo que a maioria dos passageiros exalava e certamente nunca mais voltaria a Moçambique. O mesmo acontece nos transportes públicos terrestres. Será que o povo não quer tomar banho (no que não acredito) ou antes não terá acesso a água potável? Os senhores ministros e outros, os das belas mansões e carros de topo de gama, já experimentaram? A não ser que os turistas fossem de helicóptero, directamente para os tais locais paradisíacos (que o são na realidade), não se misturando com o povo, que parece ser o que acontece. Mas turismo será isto? Quer o Ministro Fernando Sumbana que o número de turistas suba para 4 milhões nos próximos 4 anos. Também nós. Mas como? Em que circunstâncias? Com que camas? Para ver o quê? Lixo nas ruas, pedintes esfomeados, ter o telemóvel roubado enquanto fala ou não percorrer as ruas das cidades por medo e aconselhamento dos próprios agentes turísticos? Por quase nunca haver troco ter de ser este convertido em “saguate” (mesmo em repartições do Estado). Ser impedido de filmar a esposa ou os filhos nos aeroportos ou nas fronteiras como recordação da entrada ou despedida de Moçambique? Ou, muito simplesmente, ter curiosidade de conhecer o palácio onde mora o Presidente da República e ter o acesso interdito a alguns quarteirões, quando tal não acontecia no tempo dos Governadores-Gerais? Dirigindo-se aos congressistas ainda apelou Eneias Comiche: “Não têm outro remédio senão fazer de Moçambique um destino privilegiado dos vossos pacotes turísticos”. Ma como, se os preços, em relação a outros destinos turísticos semelhantes e com serviços de mais alta qualidade, são em dobro ou mais, conseguir atrair mais turistas? O chamado “turismo da saudade” certamente que não será suficiente para o turismo que se pretende. MOÇAMBIQUE PARA TODOS esteve com o povo. Conviveu com o povo. Ouviu o povo. Inevitáveis as comparações em muitos aspectos da vida quotidiana. Até porque a liberdade da conversação estava assegurada à partida. Com mais pragmatismo e menos política (ou politiquice), resultados positivos aparecerão a breve trecho. Estou certo disso. Resta-me concluir que Moçambique merece melhor governo, que povo sempre teve de primeira água! E até breve, amigos! Fernando Gil