<>De repente, já ninguém fala de estar a combater o “deixa-andar”;já ninguém fala de estar a combater o burocratismo e já ninguém fala de estar a “acelerar o passo” para o rápido desenvolvimento de Moçambique.
Porquê este repentino silêncio em volta das bandeiras principais deste governo? Terá terminado a fase da euforia eleitoral para dar lugar à fase de início de seriedade no tratamento dos assuntos reais do País?
Terão os partidários de combates fáceis acabado o seu discurso? Terão notado que as pessoas respondem com apatia, ou, simplesmente, concluiram que não é com discursos que se vai combater o “deixa-andar”, o burocratismo e a pobreza absoluta em Moçambique?
O que é que se passa, afinal? Demitiram-se da luta? Mudaram de estratégia? Se mudaram, qual é a nova estratégia para o País?
No início deste ano, haviamos nós estranhado tanto discurso junto sobre o “deixa-andar”, o burocratismo e a pobreza absoluta. Até parecia que os que pronunciavam tal discurso eram uns marcianos recém-chegados à terra e munidos das mais belas intenções sobre a necessidade de uma rápida transformação deste País e seus habitantes.
Sempre foi nossa convicção que o “deixa-andar”, o burocratismo e a pobreza absoluta não se combatem com discursos, mas sim com acções concretas e visíveis a olho popular em todos os domínios.
Também foi nossa convicção que alguns dos que falavam muito alto sobre o “deixa-andar”, corrupção e burocratismo eram, até há bem pouco tempo, campeões de “deixa-andar”, burocratismo e corrupção nas suas funções anteriores, daí que o seu discurso, se não era hipócrita, era revelador de um grande esforço de viragem de postura pessoal, política e social, o que saudámos, embora cautelosamente.
Os governadores provinciais, os ministros que, no primeiro semestre deste ano, fizeram o povo moçambicano recordar-se dos momentos altos da governação samoriana recolheram-se aos seus gabinetes, deixando os problemas do País intactos e a precisarem de sua intervenção para a solução.
Alguns dos ministros ficaram desencorajados quando em sede de conselhos coordenadores descobriram que as suas acções estavam isoladas do sentimento e pensamento gerais dos funcionários da instituição. Outros desanimaram quando os subordinados movimentados começaram a oferecer alguma resistência, desafiando a autoridade dos novos dirigentes.
Outros ainda desanimaram quando se descobriram capturados pelas alas intriguistas dos seus ministérios, alas essas que os levaram a cometer erros de palmatória que, longe de impulsionar o desenvolvimento das instituições, criaram ambientes turvos e controversos dentro das respectivas organizações, consumindo, desse modo, as energias dos dirigentes na resolução de questões internas, em prejuízo de uma acção externa mais pro-activa.
Assim, sem uma estratégia gerencial antecipada e claramente bem definida, os novos dirigentes ministeriais e provinciais foram cair nas esparrelas dos incubadores do “deixa-andar”, burocratismo, corrupção e todos os males que eles denotavam vontade de combater. Portanto, foram recapturados pelo seu velho espírito de “deixa-andar”, burocratismo e convivência e coabitação com actos de corrupção e de nepotismo, voltando, assim, ao princípio da história que, em Fevereiro, prometia ser diferente.
Está claro, em todos os sectores de actividade, que o Presidente Guebuza está paulatina e gradualmente a ser largado sozinho com o seu discurso de combate à pobreza absoluta, já que a sua equipa começa a envolver-se em rivalidades devido a mexidas que uns fazem e outros não fazem nas suas áreas de actividade.
Sendo todos ministros e governadores do mesmo governo é interessante ver que uns começaram a governar com a agressividade de quem ia resolver vários problemas quando outros, por seu turno, guardavam uma calma de quem ainda está a estudar bem o terreno para depois agir. Só que, quase ao fim do primeiro ano de actividade, parece que as coisas permanecem na mesma, o “deixa-andar” está rejuvenescido, o burocratismo flourescente e a corrupção cada vez mais generalizada em todas as frentes, alimentando o crime organizado.
Quando, no princípio do ano, alguns ministros mandaram realizar auditorias às contas dos seus predecessores tudo indicava que estávamos a iniciar uma nova era na gestão da coisa pública em Moçambique, a era da transparência e da prestação de contas sobre os negócios públicos. Agora, é a própria Primeira-Ministra que diz que o governo não vai divulgar os relatórios dessas auditorias, voltando, desse modo, para o mesmo tipo de gestão que este governo parecia querer combater no princípio.
Em nosso modesto entender, o governo de Moçambique está a desistir, paulatinamente, das metas anuais que se tinha colocado a si próprio no início da sua gestão. Está a descer, sozinho, da alta fasquia a que se tinha colocado a si próprio na governação do País.
Ou seja,
• a reforma do sector público não está a dar nada e nada é dito aos moçambicanos;
• a reforma do judiciário continua insuficiente para uma mudança real da situação no sector;
• o combate à corrupção continua uma promessa adiada;
• o combate ao “deixa-andar”, burocratismo e nepotismo continua um discurso desacompanhado de prática;
• o propalado “acelarar do passo” é outro discurso ainda por implementar;
• a aparente ofensiva ministerial verificada no princípio do ano não passou de “sol de pouca dura”.
Assim, estamos a notar que a euforia governativa generalizada dos primeiros meses de mandato está, paulatinamente, a ser substituída pela mesma apatia que desacreditou o governo anterior, o que levanta o problema de se questionar se não é esta a altura de o Presidente começar a substituir algumas das peças da máquina governativa nacional com vista a que ela ande cada vez melhor e seja capaz de atacar, com a necessária agressividade, os problemas deste País.
É que é, no mínimo, estranho que um governo tão activo no princípio esteja, antes do fim do primeiro ano de actividade, a evidenciar sinais de cansaço e de desgaste perante a enorme montanha de problemas que necessita de maior energia e galhardia para a sua resolução.
Também governar não é profissão de ninguém, por isso mudar governantes deve ser uma prática normal no exercício de um mandato democrático conferido ao Presidente da República pela população moçambicana.
Salomão Moyana - ZAMBEZE - 17.11.2005
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