Por Machado da Graça
À medida que o tempo vai passando vão-se desvanecendo as esperanças que o novo Governo criou de que as coisas iriam ser diferentes.
Toda a expectativa criada à volta do discurso presidencial sobre o combate à corrupção, à criminalidade e à pobreza foi sendo substituída pela sensação de que as coisas estão exactamente na mesma e assim vão continuar, porque não há real vontade política para que seja de outra maneira.
Quando não se dá o caso de terem piorado, como aconteceu na luta contra a corrupção com a substituição da dra. Isabel Rupia à frente da entidade encarregada desse combate.
De resto, o próprio discurso deixou de falar dessas coisas. Já nem do famoso “deixa-andar” se fala mais. Diz-se que o “dono” se zangou e não aceita continuar a ser apontado como tal. Ao certo sabe-se que ele veio a público afirmar que, se havia deixa-andar, Armando Guebuza não se podia pôr de fora pois foi parte integrande do processo.
Tudo isto nos diz que, ao nível do partido Frelimo as coisas continuam longe de estar bem definidas.
Das duas, uma: ou o que está decidido é que tudo continue na mesma e o fogo de artifício do discurso presidencial não foi mais do que isso mesmo, fogo de arftifício, bonito, mas sem nenhuma utilidade para além disso, ou havia, de facto, uma intenção de mudança em Armando Guebuza, mas o equilíbrio de forças no interior do partido não lhe permite avançar.
Em qualquer dos casos as consequências são idênticas: as coisas vão ficar como estão e o retrato do País que poderá surgir de um novo inquérito, se tiverem a coragem de o fazer no fim do actual mandato, será igual ou pior a este há pouco divulgado.
Entretanto mais bancos e serviços públicos serão esvaziados para bolsos privados, mais mansões de luxo serão construídas nos bairros onde moram já tantos ricos de riqueza duvidosa e mais algumas pessoas irão ser assassinadas se teimarem em meter o nariz onde não são chamadas. E, é claro, os assassinos terão garantida a óbvia impunidade. Isto para não falar das famílias destruídas pelos traficantes de drogas, que continuarão a ser desconhecidos porque as autoridades continuarão, eternamente, a investigar, sem nunca chegarem ao fim dessas investigações.
Alguns leitores vão dizer: deixem o governo trabalhar!
Ora é isso mesmo que temos estado a fazer. Inclusivamente apoiando abertamente aquilo que parecia ser a linha programática do executivo.
Só que seria demonstração de cegueira se, olhando à nossa volta, não víssemos os sinais claros de que as coisas estão como sempre estiveram. Depois de alguma agitação em alguns ministérios as águas foram-se acalmando, gradualmente, até voltarem a estar estagnadas, e com aquele conhecido cheiro a pôdre, que tão bem conhecemos já.
Gostaria de estar enganado. Gostaria que o executivo de Armando Guebuza me surpreendesse pela positiva, mas não me parece que isso vá acontecer. Não vejo vontade para isso.
Poderíamos estar a assistir a uma luta, com avanços e recuos conforme o equilíbrio de forças em cada lugar. Poderíamos ser chamados a apoiar aqui, ou a criticar acolá, conforme houvesse coisas positivas ou negativas a acontecer.
Pelo contrário não assistimos a luta nenhuma. Estamos a ver tudo continuar exactamente na mesma como estava, se descontarmos as investidas pessoais de um ou outro ministro.
A participação na campanha eleitoral de pessoas merecedoras de todo o meu respeito, que apelaram ao voto na FRELIMO, porque as coisas iam ser diferentes, está a ficar claro para mim que foi um erro. Esperemos que também esteja a ficar para essas pessoas, pois é tempo de se começar a pensar noutras saídas para esta situação.
Há que criar uma alternativa clara e de ruptura com a corrupção, a criminalidade, o tráfico de drogas e todos esses males a que assistimos no dia-a-dia.
Se essa alternativa não surgir, iremos assistir, nas próximas eleições, a um descalabro de abstenções ainda maior do que já foi nestas últimas.
Não deixemos para a última hora uma reflexão sobre isto, para não acordarmos depois tarde demais.
SAVANA - 21.10.2005