Por Manuel Mendes
Às vezes, muitas vezes penso que aqui há coragem para tudo. Penso até que o excesso de coragem já devia ser considerado uma catástrofe nacional.
Na verdade tenho estado a considerar a possibilidade de penalização aos homens excessivamente corajosos, essencialmente aqueles que até chegam a deitar a dignidade pela janela fora...
Costumam dizer: - Sou pobre mas tenho dignidade: Duvido da dignidade dos pobres, duvido também que com mão estendida se possa preservar com eficiência a dignidade. As minhas dúvidas também se estendem ao princípio de que se aqueles que pedem de mais sejam capazes de desenvolver-se.
Alguns estudos já feitos, indicam que as ajudas que o Continente africano, por exemplo, recebe são péssimas para o desenvolvimento do continente; outras correntes vão mais longe e atestam: a nossa dependência é causada por estarmos sempre a pedir; ou seja não pedimos por ser pobres, mas somos pobres porque pedimos muito e todos os dias. DEVIAMOS DEIXAR DE PEDIR PARA SERMOS RICOS.
Faz alguns dias, vi o ministro dos desportos a apresentar o projecto de candidatura para organização do CAN.
Quando observei o organograma do financiamento constatei que estava: fontes de financiamento: 1º DONATIVOS, 2o Créditos concessionais com taxas altamente Bonificadas. 3º Obrigações de Tesouro. Interessante; pouca vergonha. Então você quer convidar as pessoas na tua casa e pede as pessoas para comprarem cadeiras para você receber as visitas?
Pior você ao invés de dizer ou contar primeiro contigo mesmo, primeiro você conta com o estender as mãos?
Sejamos adultos.
Fico a perguntar-me quem irá assistir um jogo entre o Burquina Faso e o Sudão ou entre a Serra Leoa e a Gambia. Tenho as minhas dúvidas. Eu que sempre me preocupei com o desporto em África, acho mesmo que talvez fosse mais fácil para Moçambique organizar o EURO do que o CAN, num país onde existe um grau muito elevado de ignorância ou desprezo pelo que é africano...
Também sinto um pouco com a ideia de arrendar os campos, aliás me pergunto: a quem se vai arrendar esses campos? Por quanto? terão os clubes capacidade de alugarem? (é que hoje choram até mesmo para pagar os atletas) E se não tiver o que mais poderá se fazer com campos subaproveitados? Mais ainda será que o desporto em Moçambique é rentável?
Ou será rentável depois do CAN?
A sensação que tenho é de que em Moçambique alguns cálculos são feitos de forma emocional. Também não está desenhado qual é o objectivo essencial se é as infraestruturais ou se é o Mundial. Tudo indica que o essencial do cérebro que pensou no CAN tinha em mente ter estádios e nada mais.
Ora se o problema é dinheiro por que não organizar o EURO?
Quanto ao CAN será bonito ver aqui vários africanos (uns miseráveis outros soberbos) e alguns europeus nas ruas de Maputo, duvido que isso dê um salto na economia nacional, aliás onde estão as vantagens da cimeira da UNIÃO AFRICANA? No mesmo lugar estarão as vantagens do CAN.
Sempre Tass
A TRIBUNA FAX – 31.10.2005