Os dois grupos portugueses vão investir 100 milhões de dólares
O turismo deverá tornar-se uma das principais fontes de receitas para Moçambique e os investidores portugueses estão atentos a essa realidade. Só o Grupo Visabeira tem neste momento projectos em curso e intenções de investimento que totalizam perto de 90 milhões de dólares, apenas para a área do turismo. Quase tanto como o que o grupo aplicou nos últimos dez anos naquele país, em áreas tão diversas como as telecomunicações - a mais antiga -, indústria, construção, imobiliário, serviços vários e, é claro, turismo, num montante global de 95 milhões de dólares.
Também o Grupo Pestana, até aqui o maior investidor português na área do turismo, não pretende parar. Para já, tem prevista a construção de dois novos hotéis e ampliação dos existentes, até 2008, num montante próximo de 15,5 milhões de dólares, valor que poderá dar um grande salto caso venha a confirmar-se a compra e posterior remodelação do Hotel Cardoso, um dos três mais emblemáticos de Maputo, a par do Girassol Bahia, detido pela Visabeira, e do Polana, pertencente ao grupo de capitais sauditas Rani. A decisão deverá ser conhecida "dentro de um mês", segundo o administrador do Grupo Pestana, Florentino Rodrigues, que não avançou o valor da compra, por estarem "ainda a decorrer as negociações". O investimento efectuado pelo grupo em Moçambique somou, nos últimos oito anos, 30 milhões de dólares.
Mas outras empresas portuguesas estão a despertar para este sector, com um forte potencial de de-senvolvimento e ainda pouco explorado, como são os casos da construtora Teixeira Duarte, já com dois hotéis em Moçambique - o Avenida (Maputo) e o Tivoli (Beira) -, e da VIP Hotels, com um dos mais recentes cinco estrelas da capital, o VIP Maputo, e agora a expandir-se com a construção de um centro de convenções.
De todos os projectos anunciados, o mais ambicioso é porém o do Grupo Visabeira, que pretende estender a sua rede de hotéis Girassol a todas as capitais de província e principais cidades moçambicanas nos próximos cinco anos, o que deverá rondar um investimento da ordem dos 40 milhões de dólares. Já para não falar do megaprojecto para tornar a província de Niassa num destino único, com um investimento superior a 30 milhões.
Há 14 anos em Moçambique, o grupo tem ainda nas telecomunicações o seu principal negócio, mas "dentro de três a quatro anos será o turismo a ocupar este lugar", afirmou em entrevista ao DN o presidente da Visabeira Moçambique, Paulo Varela. A previsão é que o volume de negócios do total das actividades do grupo em Moçambique atinja este ano os 70 milhões de dólares, quase 17% mais do que em 2004, sendo a área das telecomunicações responsável por "12 a 13 milhões", seguida pela da construção, com cerca de 10 milhões, e ficando o turismo em terceiro lugar, com oito milhões de dólares.
O grupo entrou nesta actividade em 1997, quando assumiu a gestão do Indy Village, que viria a adquirir depois. Situado num bairro nobre de Maputo e hoje um aldeamento de luxo mais voltado para o turismo de negócios, com 40 vivendas numa área de 34 mil metros quadrados, vai ser alvo de uma expansão de mais 30 mil metros quadrados, que duplicará o número de quartos para 220 e dotará o empreendimento com mais ginásios, piscinas, spas e outros equipamentos que o tornem também apelativo ao turismo de lazer. A intervenção já arrancou em Outubro e tem prazo de execução de 18 meses. O investimento total ronda os nove milhões de dólares.
O Girassol Bahia Hotel foi a sua segunda aquisição, reinaugurado em 2003, depois de completamente remodelado e de um investimento, incluindo a compra, de 8,5 milhões de dólares. Em Julho deste ano abriu também o Girassol Nampula, um empreendimento que engloba, além do hotel, um centro de negócios, cinema, centro comercial e centro de conferências, onde foram gastos mais seis milhões de dólares. E, em Agosto, a Visabeira assumiu a exploração de um lodge acabado de construir no Bilene, de que deverá exercer o direito de compra até 2007, e onde está a ser concluída uma sala de conferências, estando em estudo a construção de novos chalets, com um custo total de 1,7 milhões de dólares. Este empreendimento irá funcionar como ensaio para outro mais ambicioso, que está a ser estudado para uma área de 35 mil metros quadrados igualmente no Bilene, calculado em cerca de nove milhões de dólares para arrancar no final de 2006. Como a Agrovisa, também do Grupo Visabeira, possui uma propriedade agro-pecuária com 8 800 hectares, a 50 quilómetros do Bilene, está a ser estudada a afectação de parte da area para turismo rural, junto a uma lagoa "de grande beleza, com flamingos e patos-bravos". A ideia é ter "15 a 20 quartos", distribuídos por chalets, "a servir de complemento ao Bilene-praia".
O grupo já tem também o terreno para um hotel da marca Girassol em Pemba, até 2008, seguindo--se Nacala, perto do arquipélago das Quirimbas, onde está a tentar negociar a concessão de uma ilha. A cadeia estender-se-á até à Beira, Quelimane e todas as outras capitais de província.
Mas é na província do Niassa, em cuja capital, Lichinga, há já uma unidade da cadeia Girassol, que a Visabeira tem a sua aposta mais forte, dirigida ao ecoturismo, numa área de 650 mil hectares e que conta com o envolvimento da comunidade local. Do mergulho e da pesca, à caça grossa e zona para safaris fotográficos, passando por dois hotéis de montanha e outro junto ao lago Niassa para quem prefere actividades aquáticas, incluindo o rafting, tudo foi previsto. Além do aeroporto de Lichinga, que tem condições para evoluir para o tráfego aéreo internacional, explicou Paulo Varela, estão previstos três aeródromos para apoio às unidades hoteleiras, contando a do lago, também com uma marina. Neste momento está já a ser feito o repovoamento animal da área reservada à caça e safaris, tendo o Niassa, na opinião do presidente da Visabeira Moçambique, "todas as condições para se tornar num destino de referência mundial e substituir o Quénia".
O hotel do lago vai começar a ser construído no próximo ano, devendo ser inaugurado em 2007, estando prevista para o ano seguinte a abertura de um de montanha, a cargo de um operador suíço. Já a segunda unidade de montanha envolve negociações ainda a decorrer com um operador internacional, sedeado nos Estados Unidos, "que é o maior mercado emissor de caça mundial".
O projecto para o desenvolvimento do Niassa está a ser feito em parceria com uma empresa britânica, a Concerto UK, com sucursal na África do Sul, e só o investimento da Visabeira deverá ir além dos 30 milhões de dólares.
Eduarda Frommhold
DIÁRIO DE NOTÍCIAS - 05.12.2005
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