Sérgio Vieira
Gwambe aliou-se, ou vivia às expensas do Bureau, Mondlane com realismo e nisso apoiado por Ahmed Ben Bella e a Argélia, entendeu que o Tanganhica e a Rodésia do Norte (mais tarde Zâmbia), com o Niassalândia (depois Malawi), constituíam as retaguardas geográficas da causa da libertação da África Austral.
A decisão da OUA de fixar a sede do Comité de Libertação em Dar Es Salaam, encerrou um debate bem falso. George Magombe dirige o Comité de Libertação, no início dos anos 70 substituído por Hashim Mbita até ao final da existência útil do Comité, com a independ6encia da Namíbia e a queda do apartheid.
Em 1963 Mocumbi e Chissano são chamados para Dar Es Salaam e eu enviado para Marrocos.
Em Rabat estava a Amália (Maya) da Fonseca (PAIGC) e o seu esposo, o médico Africano Neto (MPLA) e Aquino de Bragança, com a Mariana sua mulher, a Maya e Aquino ligados à CONCP a quem me juntei no trabalho. Lá vivia, mas na UGEAN (União Geral dos Estudantes da África Negra Sob Domínio Colonial Português), encontrava-se o Belli Bello e dois companheiros da Guiné Bissau.
O Aquino, a Mariana e os filhos, pouco depois partem para a Argélia, para o Aquino trabalhar no semanário argelino Révolution Africaine e a Mariana leccionar.
Mário de Andrade vivia em Rabat, assim como a primeira esposa de Amílcar e a filha mais velha. Connosco e em Rabat estavam ainda o João Mungwambe e o Joel Maduna, Ambos haviam sido expulsos da FRELIMO pelas manobras do agente Léo Aldridge Milas, desmascarado por Mondlane. Mondlane recupera os dois camaradas, que viviam no Cairo, e envia-os para Rabat.
O Jorge Rebelo junta-se a nós pouco depois. Mungwambe irá abrir a representação na Argélia, em 1964 e Maduna vai treinar na Argélia, é enviado para abrir a frente sul, onde a PIDE o assassinou na cadeia em Lourenço Marques, privando-o totalmente de comida e água, quando capturado. Rebelo segue para a Argélia e daí para Dar Es Salaam.
A saída dos caciques da MANU, da UDENAMO e da UNAMI, embora criando tensões diversas, libertou a FRELIMO das visões tribais e regionais e das expectativas vãs que a ONU ou a OUA nos trouxessem a independência numa salva de prata.
Diga-se de passagem, que o saudoso Diallo Telli, primeiro Secretário Executivo da OUA também entretinha esse mito e, formada a OUA pediu a Mondlane que se instalasse com a direcção da FRELIMO em Addis Abeba, pois a África libertaria Moçambique e nos instalaria no governo.
Mondlane respondeu que a tarefa dos moçambicanos era lutar e regar com sangue a libertação e a da OUA apoiarnos logisticamente.
Desde o início Mondlane leva a FRELIMO a agir em três direcções distintas:
Preparação da luta armada. Dois grupos seguem para a Argélia, o último dirigido por Samora, o primeiro creio encabeçado pelo Filipe Magaia. Um segue para o Egipto, dirigido pelo Lopes Tembe. Outro com Samuel Dlhakama e Sumbane para Israel, onde vão receber formação em enfermagem. Mais tarde José Moiane, Sebastião Mabote, Francisco Langa e mais camaradas vão treinar em Nanquim e Joaquim Chissano na URSS.
A organização clandestina, que Jaime Rivaz Sigaúke, dirige, coadjuvado por Mariano Matsinhe. Sigaúke que fazia demasiado confiança a elementos suspeitos de colaboradores da PIDE, é raptado e assassinado pela PIDE, substituindo-o o Mariano.
A formação escolar dos jovens, iniciada no Instituto Moçambicano, construído com o apoio da Fundação Ford. Numa primeira fase os alunos apenas viviam no Instituto e frequentavam as aulas no Kurasini International School, criado pelo African American Institute.
Curiosamente, a decisão de criarmos o nosso próprio sistema de ensino, com as aulas em português, com professores nossos, livros de ensino nossos torna-se, já na segunda parte dos anos 60, uma dos pretextos para o ataque contra a FRELIMO pelo grupo Gwenjere, Simango, Nkavandame.
Após o assassinato do Presidente Kennedy, a administração Johnson devido ao seu envolvimento no conflito do Vietname (o desfolhante Agente Laranja foi experimentado em Cabo Delgado) e aos compromissos com Israel aceita as pressões de Lisboa e leva a Fundação Ford a cortar os apoios ao Instituto Moçambicano.
Tentando prevenir o seu desaparecimento um grupo ligado aos velhos caciques da MANU assassinam um sacerdote estrangeiro em Cabo Delgado em Junho ou Julho de 64.
Continua...
Boletim Informativo do Partido Frelimo nº 173 – 28.11.2005