Uma auditoria solicitada por apenas três dos cinco países europeus que doaram dinheiro ao Tesouro nos anos 90 confirma os esquemas suspeitamente corruptos levantados há oito anos pelo jornalista e editor do extinto jornal fax, Metical, Carlos Cardoso.
O referido dinheiro foi usado para créditos a empresas ligadas ao controverso metalúrgico português António Simões, figura-chave na privatização do defunto BCM sobre o apadrinhamento de figuras próximas ao poder.
O estudo mostra que o Tesouro foi e é um autêntico saco azul e que os padrões de controlo dos créditos são ineficientes e que Simões nunca reembolsou os mais de 20 milhões de dólares que sacou do Tesouro.
A pesquisa foi elaborada pela Deloitte, uma firma de consultoria membro da Deloitte Touche Tohmatsu, a pedido da Noruega, Suíça e Suécia, no qual fazem uma minuciosa análise da forma como foram disponibilizados e utilizados os seus fundos à Companhia Siderúrgica de Moçambique (CSM) e a TRIFEL.
Esta auditoria foi encomendada em 2003, concluída e entregue a 5 de Dezembro de 2005. Curiosamente, a França e a Alemanha, pelo menos directamente, não se envolveram no estudo.
Em 1992 e 1994, a CSM e a TREFIEL receberam 17 milhões de dólares em empréstimos altamente favoráveis e de longo prazo, com dinheiro da ajuda da Noruega, França, Alemanha, Suécia e Suíça. Carlos Cardoso, na devida altura, questionou essas operações, mas, nem os doadores, muito menos fontes governamentais lhe deram ouvidos
A CSM só funcionou uns meses depois da privatização, não tardou muito que Simões não tivesse dinheiro nem para importar matérias-primas nem para salários.
Os milhões de dólares retirados do Tesouro por Simões, com apadrinhamento de figuras próximas do poder político, foram usados para a compra de equipamento através de importação. Simões usou uma engenharia financeira, sem registo na história moderna, ou seja, privilegiava a compra de equipamento de segunda mão, numa empresa sua em Portugal e ficava com grandes margens que, posteriormente, terá usado para comprar acções no extinto Banco Comercial de Moçambique (BCM).
Contudo, apesar dos malabarismos de Simões, em 1996, ele estava à frente de um consórcio para tomar conta do BCM e, na altura, Carlos Cardoso disse: `Acontece que a CSM jamais se revitalizou e, reza a especulação de fontes informadas, Simões usou uma parte dos 20 milhões USD para, mais tarde, comprar o BCM´.
Mais tarde, o BCM era formalmente privatizado a favor do consórcio liderado por Simões, que tinha oferecido USD 107 milhões por 51% do BCM.
SAVANA - 27.01.2006