Europa versus África
Com a aproximação da Taça de África das Nações erguem-se as preocupações dos seleccionadores africanos na exacta medida em que se levantam barreiras na Europa.
A situação é recorrente e levou mesmo Mourinho, na altura treinador da U. Leiria, a protestar vigorosamente contra a prova africana, referindo, então, que não queria mais jogadores africanos na sua equipa
Atouba, por exemplo, jogador camaronês do Hamburgo, desistiu, a oito dias do início da prova, de integrar a selecção de Artur Jorge, rendido à ameaça de falhar o seu percurso de afirmação na equipa alemã, enquanto, numa situação oposta, Adebayor, ganês do Mónaco, passou a ter ameaçada a sua posição na equipa gaulesa face à insistência em jogar a CAN, o que o levou mesmo a dizer que “morreria pelo Togo”. As duas situações ilustram as divergências Europa-África em relação à grande prova continental africana, sendo que há razões fortes de um lado e do outro.
É verdade que a CAN se realiza no momento mais crítico da época futebolística europeia, ficando muitas equipas privadas de importantes jogadores. Os clubes europeus, investindo muito em jogadores africanos, e sentindo, evidentemente, a sua falta, resmungam, resistem, pressionam, condicionam, fazem mesmo chantagem, mas, na base de tudo, está uma razão forte – a CAN precisa de ser jogada noutro tempo (no Verão europeu) e, como o Campeonato da Europa, de quatro em quatro anos. Porém, também é certo que África tem particularidades que justificam tanto a realização da prova de dois em dois anos como a sua efectivação nesta altura do ano.
Os poderes futebolísticos africanos entendem que é preciso queimar etapas no sentido do desenvolvimento do jogo em África e que a realização da prova de dois em dois anos permite que muitos países enfrentem o desafio da organização e criem estruturas de apoio que resultam em ganho nacional e num natural desenvolvimento do futebol. E realizar a CAN na altura do defeso europeu (Junho/Julho) significa correr o risco de ver a competição afectada pelas tradicionais e fortes chuvas desse período.D.B - CORREIO DA MANHÃ - 20.01.2006