Uma mulher grávida morreu depois de soldados terem alvejado o camião
em que seguia, segundo uma associação cívica.
Um dos advogados de Cabinda, Martinho Nombo, contou ontem ao PÚBLICO,
num contacto telefónico, que a sua residência e as de outras
personalidades têm estado desde há quatro dias "sitiadas" pela
polícia antimotim de Angola ou de Intervenção Rápida, cujos agentes
são normalmente conhecidos por "ninjas".
Segundo um comunicado distribuído à imprensa pelo porta-voz da
Associação Cívica Mpalabanda, Raul Danda, e que Nombo corroborou, a
polícia de choque tem vindo a cercar desde o fim da semana passada as
residências de pessoas como os padres Raul Tati e Jorge Casimiro
Congo, defensores da autodeterminação de Cabinda.
A Mpalabanda informou também que uma mulher grávida, Elisée Khonde
Muanda, de 28 anos, morreu sábado, um dia depois de o camião em que
viajava, na zona de Dinge, município de Cacongo, a 60 quilómetros da
capital provincial, ter sido alvejada pelas Forças Armadas Angolanas.
A associação cívica tinha marcado para domingo uma marcha pelas ruas
da cidade, a que os locais chamam Tchiowa, mas o governador da
província, Aníbal Rocha, não a autorizou, pelo que a mesma acabou por
não se efectuar.
"Não iríamos forçar a proibição. Não iríamos correr esse risco",
disse Martinho Nombo, segundo o qual foi decidido acatar a decisão
das autoridades, mas em caso de recusa permanente de quaisquer
manifestações corre-se o risco de no futuro se assistir a
uma "desobediência civil".
O desfile era a favor da paz e coincidia com uma semana em que estão
a ser celebrados os 121 anos do Tratado de Simulambuco, que os chefes
tradicionais da região assinaram com um enviado português, Augusto
Guilherme Capelo.
As forças autonomistas locais, uma parte das quais defensora da
independência, baseiam-se na existência desse instrumento jurídico
para defenderem que Cabinda é um território à parte do resto da
República de Angola.
PUBLICO - 31.01.2006