Penso, logo existo
Eduardo Sitoe *
HÁ uma dimensão importante da pobreza que se traduz na privação de rendimento e de bens materiais e que significa, fundamentalmente, uma vida que jaz sobre a tirania das necessidades básicas.
Cerca de 50% da população moçambicana encontra-se nesta situação: pobreza absoluta, vivendo com menos de 1 dólar americano ao dia e, sobretudo, uma vida que se resume à luta diária pela sobrevivência, isto é, pela possibilidade – não imediatamente garantida – de ainda se estar vivo no dia seguinte. Que papel para os media aqui? Claro que podem divulgar as situações de catástrofe, chamar a atenção dos que podem fazer algo e fazer alguma diferença. Mas, isto fica-se ainda no domínio da sobrevivência.
A outra dimensão da pobreza – que tem muito a ver com as causas da própria pobreza – diz respeito à ausência total de capacidades para o exercício de direitos entanto uma pessoa humana.
Não raro é a marginalização, o sentido de auto-exclusão, de não pertença, o fatalismo, o medo, o conformismo e a ignorância que engendram e perpetuam a situação de pobreza.
Aqui, entanto que sujeitos privilegiados de formação de opinião pública, os Media podem desempenhar algum papel válido no sentido do empoderamento dos pobres pela via da elevação da proeminência do assunto da pobreza nas agendas políticas e de governação.
Aqui a ideia não é chegar ao extremo de afirmar que se combate melhor a pobreza absoluta atacando ferozmente a riqueza absoluta, mas sim que é importante transformar o combate à pobreza numa prioridade, sobretudo, do segmento dos cidadãos não pobres da sociedade. E esta sociedade deve ser entendida na sua tríplice dimensão local, nacional e internacional.
Esta comunicação visa transmitir a ideia de que ainda que os Media tenham um papel sobretudo modesto no contexto moçambicano – incluindo aqui a questão do combate à pobreza – este papel é, paradoxalmente, fundamental e urgente. Tem uma dimensão imediata de difusão de informações com impacto útil e tangível na mitigação dos efeitos e dinâmicas da pobreza.
Mas tem uma dimensão de empoderamento dos pobres que se traduz, quer pela formação de uma opinião pública mais responsável face à questão da pobreza, quer pela responsabilização directa das pessoas que estão em posições de autoridade face aos destinos dos pobres, pessoas estas que podem estar situadas institucionalmente nos níveis local, nacional e internacional.
* Docente e investigador da UEM
EXPRESSO(Maputo) – 26.01.2006