A igreja de Cabinda continua a sofrer na pele uma maquinação que pretende esmagar a sua autenticidade e lançá-la para o silêncio. Os padres de Cabinda, que desde sempre se mantiveram firmes contra o sofrimento do seu povo, são eles agora que sofrem e são corridos das suas igrejas, com a sacra bênção de uma hierarquia surda ao desespero e vontade de todo um povo. Enquanto isto, a «comunidade internacional» permanece num aparente silêncio como se não quisesse incomodar supostos valores sacramente reservados.
A Mpalabanda - Associação Cívica de Cabinda a custo consegue exercer a sua acção de protecção dos Direitos Humanos, enquanto várias forças exterior pretendem estrangular financeiramente a associação e perseguir os seus membros, paralelamente os mesmos carrascos difundem uma imagem de defensores dos direitos humanos. E enquanto prosseguem a violação dos Direitos Humanos, supostamente defendida por todos os Estados de direito, a «comunidade internacional» permanece também em silêncio.
António Guterres, ex-primeiro-ministro português, conhece profundamente a questão de Cabinda. Nomeado Alto Comissário da ONU para os Refugiados, usou a sua influência para que Portugal acolhesse refugiados de várias origens, mas até hoje não deu um passo na defesa dos refugiados cabindas que vivem um drama que se arrasta desde os anos 50, agravado em 1975 e que se prolonga em 2006. Com pompa e circunstância, o ministro português do Interior apresentou à imprensa novos refugiados acabados de chegar a Portugal, e na ocasião, a imprensa aproveitou para trocar algumas impressões com os recém chegados... em língua francesa. «Em Cabinda o sofrimento fala português», afirmou o padre Jorge Casimiro Congo, mas mesmo assim todos os cabindas que pretendem refugiar-se em Portugal vêem logradas as suas tentativas, obrigando-os a permanecerem na clandestinidade e frequentemente em condições extremamente precárias... E a «comunidade internacional» permanece em silêncio.
Assim, só uma conclusão se pode tirar: a dita «comunidade internacional» não existe! Na realidade, é uma designação demagoga, existem sim Estados que funcionam isoladamente e indiferentemente ao sofrimento dos outros, no caso de Cabinda é evidente que o petróleo ocupa um espaço capital na manutenção do silêncio, e assim, esses mesmos Estados, que quando lhes convém são uma «comunidade internacional», fazem os seus cidadãos circularem em viaturas de combustão a sangue.
Rui Neumann -IBINDA - 27.02.2006