O Conselho Islâmico de Moçambique (CIM) lançou hoje um apelo para "um boicote total e indefinido" ao semanário Savana, de Maputo, após o jornal ter publicado na sexta- feira sete das polémicas caricaturas do profeta Maomé.
"Consideramos que, após toda a polémica causada e depois da atitude compreensiva e conciliadora da sociedade muçulmana em Moçambique, a publicação despropositada destas caricaturas como uma ofensa deliberada à nossa religião, um insulto grosseiro à nossa dignidade e um atentado directo aos nossos direitos cívicos", considera o comunicado publicado hoje na imprensa de Maputo.
Na sua última edição, o Savana publicou sete dos polémicos 'cartoons' do profeta Maomé, numa das páginas interiores e sem chamada à capa.
Num pequeno texto que acompanha os desenhos, o Savana referia os dois pontos de vista no debate criado pelo jornal dinamarquês que primeiro publicou as caricaturas mas, em editorial, assinalou que "alguém viu na publicação das caricaturas uma excelente oportunidade para o despontar de um fanatismo religioso há muito adormecido".
Na sexta-feira, dezenas de muçulmanos concentraram-se junto das instalações do Savana, propriedade da cooperativa Mediacoop, que detém igualmente o diário por fax Mediafax.
Naquele local, no centro de Maputo, os muçulmanos exigiram um pedido de desculpas do jornal, o que foi aceite pelo seu director, Kok Nam, mas ressalvando que o fazia "sob pressão" uma vez que os manifestantes se encontravam a poucos metros e controlados por apenas dois polícias.
Duas horas após terem chegado ao local, os manifestantes debandaram, entoando palavras de ordem como "Morte ao Savana", "Muçulmanos unidos jamais serão vencidos" e "Deus é grande".
Mais tarde, a direcção do Savana, num comunicado dirigido à comunidade muçulmana, afirmou que o objectivo da publicação das caricaturas foi "unicamente o de demonstrar graficamente o que era objecto de debate público" e apresentou as suas "sinceras desculpas".
As desculpas não foram aceites pelo CIM que, hoje, apelou à comunidade muçulmana para aderir "de imediato a um boicote total e indefinido do semanário Savana" e ao fim de "todas as relações comerciais, institucionais, profissionais e sociais" com o semanário e os seus colaboradores.
O comunicado é assinado pelo presidente do CIM, xeque Aminuddin Moahmad, até agora colaborador do semanário Savana.
A comunidade muçulmana de Moçambique é a mais forte do ponto de vista económico mas a sua força raramente se estende ao poder político, como ainda recentemente se queixaram alguns dos seus líderes por não se sentirem representados no novo Conselho de Estado nomeado pelo presidente da República, Armando Emílio Guebuza.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 18.02.2006