Biocombustível
Custos de importação de combustíveis podem diminuir
(Maputo) A indústria açucareira moçambicana poderá contribuir de forma significativa para a redução dos custos de importação de certos tipos de combustível líquido e ajudar o país a inverter a tendência actual em que a esperança está a desvanecer motivado pela incerteza que o comportamento do mercado petrolífero internacional vem semeando em todos nós. Caso o governo adopte uma política destinada a promover a produção de Etanol (alcool etílico) nas várias refinarias de açucar existentes em Moçambique, será possível poupar na importação de combustíveis e, mais importante do que isso, devolver-nos a ideia de que ainda podemos pensar em desenvolvimento sustentável. Para não falar, porque escusado será, do que em termos de emprego, especialmente agrícola, adviria de uma iniciativa desse tipo.
O exemplo mais elucidativo chega-nos do Brasil, pais onde o combustível presentemente consumido a nível de veículos automóveis consiste em 85%, de Etanol ou Álcool Etílico, o que equivale a uma poupança idêntica, em divisas destinadas a importação de combustíveis, estimada em 86 mil milhões/usd. A experiência brasileira, aliás, não é inédita.
Em Moçambique, no período colonial, a açucareira do Búzi – recentemente adquirida ao Estado pela Família Petiz por 1 milhão de USD – produzia Etanol que era consumido por viaturas automóveis, ligeiras e pesadas, se bem que em percentagem reduzida.
Para além da poupança em divisas, o Etanol, como aditivo do combustível automóvel, é amigo do ambiente: reduz as emissões de bióxido de enxofre e de carbono em 80%.
O Brasil, actualmente consegue produzir o barril de Etanol entre os 28 e os 30, que chega a ser metade do preço actual do barril de petróleo (60 Usd) nos países produtores, que se encontram, a maior parte deles, envolvidos em disputas que bem poderão ainda conduzi-los a uma guerra de proporções imprevisíveis.
Na vizinha África do Sul, referia há dias o Mail & Gardian, o governo tenciona adicionar, a partir do próximo ano, 10% de Etanol ao combustível derivado do petróleo consumido localmente.
Os veículos automóveis não necessitam de efectuar quaisquer modificações nos motores para poderem circular com aquele teor de Etanol nos tanques.
Em termos de poupança para a economia sul-africana, os 10% de etanol corresponderiam a 3 mil milhões de Randes anuais, se se considerar que o consumo anual de combustíveis se situam nos 11 mil milhões de litros.
O Mail & Guardian refere que Moçambique, pais dotado de um vasto território, sol e água em abundância, poderia tornar-se num dos principais produtores de etanol a ser exportado para os mercados internacionais.
São particularmente interessantes para produção de açucar vastas regiões no Vale do Zambeze, extensas superfícies ao longo de vários rios, designadamente Chire, em Tete/Zambézia; Púnguè e Búzi, em Sofala, Limpopo e Incomáti, em Gaza e Maputo.
O cenário que se vive presentemente com os combustíveis tradicionais pode proporcionar a Moçambique uma oportunidade que, se bem aproveitada será capaz de nos devolver a esperança de que tanto necessitamos, para voltar a fazer-nos sorrir.
Em Moçambique existem a funcionar as açucareiras de Mafambisse e Marromeu, na Província de Sofala; e Maragra e Xinavane, na Província de Maputo.
Ainda há a possibilidade de colocar-se em funcionamento outras, designadamente em Luabo, na Zambézia, e a Companhia do Búzi no distrito do mesmo nome, em Sofala.
Dados em poder do Canal de Moçambique indicam que o director do Instituto Nacional do Açucar, Arnaldo Riberio, esteve recentemente no Brasil a estudar os caminhos para esta oportunidade que sorri a Moçambique.
Outros dados que possuímos indicam que no imediato já existem empreendedores brasileiros muito interessados em desenvolver projectos de produção de Etanol, nas baixas do Rio Incomáti. Esta opção terá a ver com o facto do maior mercado consumidor do Etanol que se possa vir a produzir numa destilaria ainda a instalar seria o sul-africano.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 14.02.2006