20 anos depois de Moçambique se preocupar
O «Sunday Independent», semanário da Cidade do Cabo, noticiou que “o antigo regime do apartheid teria pago uma indemnização ao navegador/piloto do avião sinistrado” em Mbuzini. O pagamento, acrescenta o jornal, “foi efectuado através da embaixada sul-africana em Moscovo, no início da década de 90”. (Maputo) Uma sondagem levada a cabo pela «News24», um serviço de notícias da África do Sul, revelou que 65% de um total de 1,500 pessoas inquiridas, opõe-se à reabertura do «dossier-Mbuzini» referente à tragédia que vitimou o fundador da primeira República em Moçambique. A sondagem foi efectuada na sequência das declarações feitas pelo presidente Thabo Mbeki, da África do Sul, segundo as quais o seu governo tenciona “desvendar o mistério” por detrás da morte de Samora. Para os inquiridos, “em vez de realizar o inquérito à morte do Presidente Machel, o governo devia solucionar os crimes ainda por resolver no nosso próprio país.” Apenas 6% dos inquiridos pela «News24» concordou que se devia reabrir o inquérito. Nas investigações já efectuadas pela África do Sul, como Estado de ocorrência do desastre em que morreu Samora Machel, a tripulação do Tupolev presidencial foi responsabilizada pela ocorrência. A imprensa sul-africana tem dado destaque ao anúncio feito pelo presidente Mbeki no início do corrente mês. O «Sunday Independent», semanário publicado na Cidade do Cabo, noticiou que “o antigo regime do apartheid teria pago uma indemnização ao navegador/piloto do avião sinistrado” em Mbuzini. O pagamento, acrescenta o jornal, “foi efectuado através da embaixada sul-africana em Moscovo no início da década de 90.” “Esta seria uma prova concludente” – sugere o «Sunday Independent» – “do envolvimento do apartheid no caso”. Só mecânico sobreviveu Dados confirmados na altura do acidente, no entanto, referem que tanto os pilotos como o navegador do Tupolev presidencial pereceram. A tripulação soviética era composta de cinco membros. Apenas o mecânico de bordo, Vladimir Novoselov, sobreviveu. O mesmo jornal afirma que “novos dados sugerem que agentes sul-africanos encontravam-se em Matsapha a proceder à instalação e testes de uma nova estação emissora VOR na noite em que ocorreu o desastre”. Tanto Moçambique como a União Soviética, note-se, rejeitaram a hipótese do VOR de Matsapha ter estado na origem da volta prematura que o Tupolev transportanto Machel e a sua comitiva efectuou antes de colidir contra os Montes Libombos na região de Mbuzini, próximo da Namaacha. Num parecer apresentado à comissão de inquérito sul-africana, Moçambique alegou que o trajecto seguido pelo Tupolev presidencial não coincidia com o radial emitido pelo VOR de Matsapha. Já a União Soviética argumentou que o Tupolev não poderia ter sido capaz de interceptar tal sinal devido a obstruções causadas pela montanha de Bembegazi que faz parte da cadeia dos Libombos. Desconhecem-se pormenores sobre a composição da nova comissão de inquérito ou se a mesma irá conduzir os seus trabalhos à porta-fechada, à semelhança do que aconteceu com as sessões da Comissão da Verdade e Renconciliação Nacional perante a qual depôs a ex-primeira dama moçambicana, Graça Machel. É de prever que o antigo ministro da segurança de Moçambique, Sérgio Vieira, venha a ser convocado a prestar declarações perante a nova comissão de inquérito sul-africana para esclarecer a alegação por ele feita repetidas vezes de que os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra estavam em posse de informações de que o antigo regime do apartheid fora o responsável pelo desastre de Mbuzini. Segundo Vieira – actual director-geral do GPZ e tido por algumas sensibilidades como o futuro PCA da HCB – tanto os Estados Unidos como a Inglaterra preferiram não vir a público com uma revelação desse teor pois uma tal postura ser-lhes-ia favorável às disputas que mantinham com o bloco soviético no âmbito da chamada «Guerra Fria». Numa edição recente, o «África Monitor» afirmou que a versão que apresenta o acidente como tendo sido resultado de uma conspiração “nunca mereceu aceitação da CIA ou do SIS (britânico).” Aquela publicação editada a partir de Lisboa por um analista de referência sobre assuntos relacionados com países africanos de língua oficial portuguesa, Xavier de Figueiredo, refere que “quanto às suspeitas de que a África do Sul através de sofisticados sistemas de intercepção, teria provocado interferências nos sistemas de comunicação do avião, dando-lhe uma rota errada, a análise da CIA é a de que Pretória não só não tinha nenhum interesse na queda do avião (nele viajavam alguns dos seus melhores interlocutores moçambicanos, como Fernando Honwana, Aquino de Bragança e até o próprio Samora Machel), como, em tal caso, evitaria sempre que o avião caísse no seu território.” (Redacção) CANAL DE MOÇAMBIQUE – 20.02.2006
“Esta seria uma prova concludente do envolvimento do apartheid no caso” – sugere jornal.