por Noé Nhantumbo
Pelo que ouvi e observei, os moçambicanos estão aprendendo rapidamente a reclamar quando algo lhes parece menos justo. É por exemplo o facto de só se comemorarem e terem relevo na comunicação social pública datas e factos relativos aos heróis da luta anti-colonial de individualidades de uma maneira ou de outra afins ao «Império de Gaza». Após mais um Gwaza-Muthini não foram poucas as vozes discordantes que se fizeram ouvir na Beira sobre tal facto. As pessoas não discutem o mérito de Gungunhana ou de outro interveniente famoso na luta contra a invasão colonial, mas, sim, a exclusão dos outros moçambicanos do Centro e do Norte daquilo que é hoje Moçambique.
A unidade nacional e o sentido de Nação constroem-se com respeito pelos outros e isso se faz também dando proeminência àquilo que é dos outros. Unidade na diversidade é isso e não simplesmente palavras vãs pronunciadas quando convém a certas figuras.
As outras pessoas, ao mais uma vez serem confrontadas e praticamente obrigadas a engolirem o “sapo” de «Gwaza-Muthini», sem se importarem do que seus partidos digam, estão, à boca cheia, clamando por verem seus heróis, como Makombe, Kamba Simango e outros, também inscritos e celebrados com o mesmo peso que os do «Império de Gaza» o são. Foi e é interessante verificar que a moçambicanidade é construída no dia-a-dia pelos moçambicanos, conversando, discutindo, confrontando-se muitas vezes fora dos mecanismos partidários. O que de útil está acontecendo entre os actores, acontece fora das estruturas partidárias asfixiantes. Para todos os que querem ver Moçambique acontecendo no dia-a-dia é deveras interessante observar que os moçambicanos conseguem consumir artigos provenientes de fora dos quadrantes ou parâmetros partidários. E esta dos heróis anti-coloniais já tardava a aparecer.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 21.02.2006