Continua a crise no grupo parlamentar do Galo Negro
A direcção da UNITA «pondera» a eventualidade de «abandonar o
Parlamento e o Governo de Unidade e Reconciliação». O líder da UNITA,
Isaías Samakuva disse que não tomara esta iniciativa «de ânimo leve»
mas que é preciso «que haja bom senso de parte a parte».
Em causa, a atitude do MPLA em relação a substituição de uma parte da
bancada da UNITA, que a direcção do partido resolveu substituir. A
Comissão parlamentar dos Assuntos Constitucionais da Assembleia
resolveu dar razão aos 16 deputados que recusam de ceder os seus
lugares aos deputados do Galo Negro eleitos em 1992. Os «rebeldes»
poderão vir a ser expulsos do partido.
De regresso a Luanda após uma visita de sete dias às Lundas, Samakuva
resolveu precisar o «aviso a navegação» que tinha lançado há um mês
quando declarou ao EXPRESSO que a estabilidade politica angolana
dependia da estabilidade interna dos grandes partidos
políticos. «Entre a estabilidade do nosso partido e a de uma
assembleia que já não tem mandato, nos poderemos optar pela
salvaguarda dos interesses do partido» precisou Samakuva o Presidente
da UNITA.
Os outros partidos da oposição parlamentar reagiram com cautela a
tomada de posição de Isaías Samakuva, convidando a direcção da UNITA
a medir bem as consequências da sua eventual saída.
Segundo o analista político Justino Pinto de Andrade, a saída do
Parlamento teria «efeitos devastadores» para a UNITA e seria um forte
golpe para a oposição, que ficaria enfraquecida face ao MPLA com a
retirada dos 70 deputados do Galo Negro.
Em declarações a emissora católica angolana Rádio Ecclésia Justino
Pinto de Andrade põe também em dúvida que a UNITA tencione cumprir as
suas ameaças dado que o grupo parlamentar é a principal fonte de
financiamento legal do partido, recebendo por ele cerca de 10 milhões
de euros por ano do estado, sem contar com o subsídio para a próxima
campanha eleitoral.
EXPRESSO - 18.02.2006