A empresa francesa «Tereos» anunciou que está disposta a abandonar o consórcio em que tem estado com mauricianos, em Moçambique, e ainda um outro no Brasil, a troco de 75% do capital da «Ilhovo». É um sinal do interesse repentino que as multinacionais começam a ter pelo sector açucareiro em Moçambique e em África.
A «Tereos – Union de Cooperatives Agricole» e a «Savannah Sugar States», mauriciana, fazem ambas parte do consórcio que controla 78% da «Companhia de Sena», em Marromeu, na província de Sofala. Os 78% de capital privado na Açucareira de Marromeu, anteriormente eram totalmente detidos pelo grupo mauriciano. Este ano a empresa francesa adquiriu 50% da «Sena Holdings de Moçambique».
A «Ilhovo», sul-africana, que opera na Açucareira da Maragra, na província de Maputo, estimou para 2005 uma produção de 63 mil toneladas mas, a produção real ultrapassou em mais de 10% essa cifra tendo-se situado em 74,5 mil toneladas (Ton./s). A «Companhia de Sena», em Marromeu, em 2005 não conseguiu atingir o que projectou produzir (80 mil Ton./s), tendo-se ficado por 73,3 mil Ton./s.
A «Ilhovo» («Elefante») é a maior empresa do sector açucareiro em África. Está presente, para além de Moçambique, em vários países da SADC, designadamente Zâmbia, Malawi e Tanzania. A «Tereos – Union de Cooperatives Agricoles» é a segunda maior empresa açucareira da Europa. Esta e a britânica «Associated British Food» estão interessadas em comprar a gigante sul-africana «Ilhovo». O que está aparentemente a suscitar esta corrida de aquisição das açucareiras moçambicanas é o facto já anunciado segundo o qual, a partir de 2009, certos países irão beneficiar de livre acesso dos seus produtos ao mercado europeu.
Moçambique é um país com um potencial enorme para produção de cana sacarina e, isso associado ao bom desempenho que as açucareiras estabelecidas nos últimos anos têm tido, bem como a perpectiva de Moçambique vir a ser eleito beneficiário da abertura do mercado europeu, está a criar altos apetites às multinacionais.
Por outro lado, a reabilitação do sector açucareiro acaba também de se concluir estando agora os «assets» no seu mais pleno potencial o que aguça ainda mais a vontade do grande capital intervir.
O financiamento para a reabilitação da industria açucareira em Moçambique está calculado por certas fontes em cerca de 300 milhões de US mas outras alegam que orçou apenas em 140 milhões de USD. Seja como for os investimentos realizados proporcionaram um aumento da capacidade instalada de todas as açucareiras juntas acima das 250 mil Ton´s de açucar/ano.
Em 2005, contrariando tudo o que caracterizou muitos sectores que animam a economia moçambicana, o ramo açucareiro anuncia uma produção recorde, com 2,2 milhões de ton´s no ano, de cana; 256 mil ton´s de açucar; e 81 mil ton´s de melaço numa área colhida de pouco mais de 31 mil hectares, como está a ser veiculado pelo governo chinês da Região Autónoma Especial de Macau numa acção concertada com o Instituto Nacional do Açucar de Moçambique. Os números anunciados são ainda referidos como representando ganhos de 20% (cana), 29% (açucar) e 23% (melaço) respectivamente, em relação a 2004.
Para além da Maragra e de Marromeu, operam mais duas açucareiras no país, nas quais participa a sul-africana «Tongaat-Hulett», que detém 49 por cento do capital da «Açucareira de Xinavane», na província de Maputo, e 75 por cento da «Açucareira de Mafambisse», no centro de Moçambique.
O aumento da produção nas açucareiras moçambicanas foi acompanhado de maior exportação, sobretudo para os mercados preferenciais da União Europeia - através dos protocolos “Tudo Menos Armas” (EBA) e países ACP - para os Estados Unidos e para a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
No conjunto, estes três mercados absorvem mais de 60 por cento do açúcar “made in Moçambique” destinado ao exterior.
Da produção de 2005 já foram exportadas 56 mil toneladas e, até ao final de Março, serão vendidas 13 mil toneladas adicionais para a UE, no âmbito da iniciativa EBA, e 5 mil toneladas para os EUA, fixando em cerca de 62 toneladas o que a produção de 2005 destinou a mercados preferenciais.
A actual quota preferencial de açúcar de 8 mil toneladas que Moçambique exporta para a Europa ao abrigo da iniciativa “Tudo Menos Armas” deverá aumentar até 15 porcento, segundo estimativas avançadas pela «Tongaat-Hulett».
Para além das exportações para a União Europeia, Moçambique vende anualmente 12 mil toneladas para os Estados Unidos e 10 mil toneladas para a região da África Austral, ao abrigo de um acordo de açúcar assinado pelos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
O sector do açúcar em Moçambique emprega cerca de 26 mil trabalhadores directamente e outros quatro mil em serviços de apoio, como corte de cana, transporte, e em produções independentes de cana («Canal» com material da «macauhub»).
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.03.2006