Praia poluída do Bilene - Moçambique, em 21. 03.2006. Foto de FC
Praia poluída do Bilene - peixes e caranguejos mortos e detritos. Foto de FC
por João Craveirinha
TOTAL DISASTER
“XA KU REMERO RA RE KURE, BARE”
(tradução do xinDao antigo:- “nascido de algo pesado que veio de longe”)
“ABYSSUS ABYSSUM INVOCAT” (Aforismo em Latim: O Abismo chama o Abismo – salmo de David para dizer que uma falha grave origina outro erro maior). Aplica-se na actual situação deplorável da ex – magnífica, Praia Azul do Bilene – “Blue Lagoon”, era previsível pois o sistemático "assassinato" à “Marina” do Bilene cujo primeiro indício de descontrolo (re) começou pela falta de respeito ao Meio – Ambiente logo o pós – abertura multipartidária em Moçambique, face à libertinagem Cívica do cidadão e Municipal onde cada um fez o que bem entendeu em termos de (des) construção e aprovação urbanística na zona...multiplicando as casas, casinhas e casotas e “baracas” (sem o outro erre), numa zona que devia ter sido proibida de qualquer tipo de construção dentro de um perímetro a definir pelos especialistas de Arquitectura Ecológica visando proteger a famosa Praia de S. Martinho do Bilene, mantendo o seu traçado inicial de Lagoa salgada sem ligação ao Mar por canal...mas como o mau exemplo veio sempre de cima…”rien à faire” (nada a fazer)…
O ERRO MAIOR – a falta de investimento numa Marinha de Guerra e Polícia Marítima com vedetas rápidas (catamarans), a patrulhar a imensa Costa de Moçambique. A lacuna deixa – nos a mercê de qualquer navio “pirata” que queira lavar seus porões...e poluir ainda mais qualquer Praia.
A 23 de Março de 2006 lemos no “saite mocambiqueonline” um relato enviado por Fernando Costa (FC), sobre esta tragédia ecológica. De pronto contactamos o cidadão em epígrafe e as fotos enviadas sem montagem, são elucidativas, e, confirmam o…TOTAL DISASTER. Para nos situarmos nas circunstâncias que inspiraram esta crónica, eis o início do relato de FC: (citação) …”A situação é muito estranha e a verdade é que aquele local antes de águas límpidas e saudáveis, apresenta agora um tom amarelado e doentio e as margens estão carregadas duma espuma que não se desfaz.” (…) ”A versão de que se trata de produto de lavar porões de navios é contrariada por testemunhos que afirmam que o navio poluidor, no meio da tempestade da passada semana, largou uma plataforma contendo muitos contentores carregados de bidões com o mesmo produto ainda não identificado, na Praia de Dinguíne a norte de Xai-Xai”(...) ”Foram recolhidas amostras por diversas entidades mas até agora nada foi esclarecido ao público. Dos testemunhos obtidos na vila de Bilene, algumas pessoas afirmam que quem consumiu o peixe morto que aparecia nas margens ficou doente. Várias pessoas são vistas a mergulhar na água. Estas duas atitudes são potencialmente perigosas enquanto não se obtiverem certezas de que produto se trata. No Bilene a pesca está proibida mas em Xai-Xai, Chongoene e aldeias e vilas próximas do Bilene a actividade continua. Conhecendo como conhecemos o tráfico internacional de resíduos perigosos era importante que se agisse rápido a fim de evitar algo de muito mais grave a médio prazo… Ficam algumas fotos da situação.”… (Fim de citação do relato de Fernando Costa).
Há anos (fins da era Machel), fomos dos primeiros a alertar sobre a má utilização da Praia do Bilene com a explosão demográfica e respectiva urbanização ad hoc inconsequente e...em crescendo na era Chissano como símbolo de status socioeconómico...
Resumindo em jeito de “lead” ou 5 W’s tópicos básicos de comunicação ou técnica de síntese. Teríamos as causas gerais assim delineadas:
What? (O quê?) = Desastre Ecológico no Bilene (e não só…Barreiras, etc…)
Why? (Porquê?) = Incompetência Política sistemática!
Who? (Quem?) = Sucessivos Governos!
Where? (Aonde?) = Em Moçambique!
When? (Quando?) = Agravada no pós – Independência!
Isto tudo para dizer que nada se tem aprendido com a HISTÓRIA!
Actualmente, a política de protecção ao Meio – Ambiente parece servir tão - somente para arrecadar donativos financeiros internacionais com um preço sempre muito elevado a ser pago... se não forem utilizados devidamente para os fins em causa. Aliás donativos a serem duramente pagos também com a perda da nossa identidade e dignidade e o aumento da pobreza absoluta...o resto da factura vem a caminho...e a galope, com os 4 Cavaleiros do Apocalipse não propriamente das visões bíblicas dos Profetas Ezequiel e “Zacharia” mas numa perspectiva mais Moçambicana. São o cavalo cor do “vazio” da Fome, o cavalo verde sujo das Doenças Epidémicas e o cavalo pálido, desbotado sem cor da Mentalidade Selvagem do egoísmo. O cavalo vermelho cor de sangue da Guerra, já o tivemos até demais. Espero que o cavalo extra da cor azul celeste da Paz seja eterno. Só ele nos pode valer. No entanto, SEM MEIO-AMBIENTE SAUDÁVEL NA NATUREZA E NO NOSSO CORPO E ALMA, NUNCA HAVERÁ QUALIDADE DE VIDA E PROGRESSO. E a responsabilidade é de todos!
Oxalá (Inch 'Al.Lah), seja esta crónica desmentida pela evolução positiva, da situação no terreno. Shalom! Namasté! Náme! Sia –Vuma! Grato pela atenção, João Craveirinha.
26.03.2006