Populações da vila de São-Domingos
As populações das aldeias guineenses junto à fronteira com o Senegal estão fugir para zonas mais distantes da vila de São-Domingos, devido à intensidade dos combates entre os militares da Guiné-Bissau e os rebeldes da Casamança.
A informação foi confirmada por Alfa Djaló, delegado do Comité Internacional da Cruz Vermelha, uma das poucas instituições humanitárias que está a apoiar os deslocados, que fogem das duas aldeias em direcção à Ingoré, localidade a 44 quilómetros de São-Domingos.
Segundo Alfa Djaló, o Comité Internacional da Cruz Vermelha registou, até quinta-feira, 236 deslocados das «tabnacas» (aldeias) de Ponta Cristóvão, Barraca Mandioca, Barraca Lugar, Ponta Roxo e Ginalcunda, que se refugiaram nas povoações vizinhas, ou mesmo em Ingoré.
Já hoje, algumas dessas pessoas dirigiam-se para outras localidades ainda mais distantes, em direcção a Bissau, receando que os combates se intensifiquem, de acordo com os delegados da Cruz Vermelha.
A Cruz Vermelha começou hoje novamente um trabalho de recenseamento dos deslocados que se dirigem para Ingoré ou Bissau, disse Alfa Djaló, para quem a situação humanitária «ainda está sob controlo».
O chefe do gabinete do Comité Internacional da Cruz Vermelha na Guiné-Bissau confirmou que 11 pessoas, todas civis, morreram quarta-feira quando a viatura em que seguiam passou sobre uma mina, entre Suzana e São-Domingos.
Alfa Djaló disse que, até ao momento, estes foram as únicas vítimas mortais de que a instituição tem conhecimento.
Entretanto, é perceptível a existência de «alguma» tensão na vila de São-Domingos, base das tropas guineenses que estão a desenvolver operações, segundo o Governo, para expulsar os rebeldes da Casamança do território da Guiné-Bissau.
Alguns serviços estatais estão a funcionar parcialmente, enquanto outros encerrados. As escolas estão fechadas e parte do comércio está aberta.
O movimento dos transportes de passageiros diminuiu, vendo se muitos militares nas ruas de São-Domingos.
O número de militares, que chegam de outros destacamentos e aquartelamentos com armas e munições, tem vindo a aumentar nas últimas horas em São-Domingos.
EXPRESSO AFRICA - 17.03.2006
P.S.: Comentário recebido de um catedrático brasileiro, em email enviado a diversas pessoas e entidades:
Meus amigos:
Aqui vai uma notícia sobre a Casamansa. Como vocês sabem, a Casamansa há 40 anos que quer se separar do Senegal e virar uma república de língua portuguesa, filiando-se à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPL). Eles fazem uma guerra de guerrilha contra o governo de Dakar e volta e meia entram na Guiné-Bissau (porque é lá que se escondem). Os governos de Portugal e do Brasil têm se omitido vergonhosamente nessa questão. Portugal, pelo jeito, não quer ofender a França, que tem muitos interesses no Senegal, talvez com medo de perder os subsídios da UE. E o Brasil? A imprensa brasileira não dá uma linha. Até parece que o pessoal da Casamansa não fala português como nós (é claro que eles falam o dialeto local, mas se, um dia, a Casamansa ficar livre, será o português a língua oficial). Vamos fazer uma rede para chamar a atenção para a luta da Casamansa."
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Para compreender um pouco melhor:
Separatismo de Casamansa
As relações bilaterais entre a Guiné-Bissau e o Senegal foram condicionadas durante anos pelo separatismo em Casamansa, região no sul do Senegal. Os rebeldes, segundo fontes militares ouvidas pelo DN, tiveram durante anos o "apoio explícito" (logístico e operacional) do então Presidente Nino Vieira - cujo alegado envolvimento no tráfico de armas para Casamansa foi usado aquando da sua destituição - e do general Ansumane Mané. Curiosamente, Nino obteve apoio militar de Dacar aquando da sua queda.
A eleição de Kumba Ialá como Presidente da Guiné-Bissau levou o homólogo senegalês, Abdoulaye Wade, a fazer "uma aproximação" expressa ao novo poder de Bissau. E logo em 2001, quando os separatistas de Casamansa circulavam com alguma liberdade em território guineense e até instalavam postos de controlo nas vias de circulação, o então coronel Tagmé Na Waie (agora o principal chefe militar guineense) "acabou de facto" com uma presença que perturbava o Senegal, lembraram as fontes.
Quando Kumba Ialá - a quem, observaram, Dacar apoiava financeiramente - foi forçado a demitir-se, "surgiu logo" em Bissau uma delegação de alto nível do Senegal, Togo e Nigéria para tentar que o general Veríssimo Seabra o "repusesse no poder", disseram as fontes.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS - 21.05.2005