PUBLICO - 27.3.06
ANA DIAS CORDEIRO
Acusações e falta de informação sobre o conflito preocupam partidos e sociedade civil em Bissau.
Partidos políticos e sociedade civil guineenses exigiram nos últimos dias em Bissau o fim das hostilidades que opõem o Exército guineense a uma ala do Movimento das Forcas Democráticas da Casamansa (MFDC) no Norte da Guiné, junto à fronteira com o Senegal.
Os confrontos começaram no dia 16 de Março, entre a ala do movimento liderada pelo comandante Salif Sadio e as tropas guineenses apoiadas pela facção do MDFC do comandante César Badiate. Desde então, mais de 5000 civis guineenses fugiram dos combates na região de São Domingos para Cacheu, Bula, Ingoré, ou Bissau. Pelo menos 500 pessoas encontraram refúgio no lado senegalês.
A ajuda humanitária começou a chegar. Mas vilas como Susana e Varela, apenas ligadas a São Domingos por uma estrada com minas, estavam até há pouco tempo isoladas.
Após a breve acalmia da semana passada, as tropas guineenses intensificaram a ofensiva, escreve a Reuters. Nesse dia, voltaram a ouvir-se tiros de artilharia pesada na vila de São Domingos, onde as tropas guineenses têm a sua base, a cerca de 130 quilómetros de Bissau e a menos de seis da fronteira.
Os bombardeamentos - que se pensa serem sobre bases de Salif Sadio em território senegalês - eram mais esporádicos do que nos primeiros dias da ofensiva, disseram ao PÚBLICO fontes no terreno. Em contrapartida, tornaram-se mais perceptíveis as trocas de tiros de armas pesadas no interior das matas, o que não acontecera até então.
As tropas guineenses invocam a defesa do território para perseguir Salif Sadio, que acusam de desestabilizar e de manter bases na Guiné.
E têm como aliado o comandante César Badiate, que se opõe a Sadio dentro do movimento rebelde da Casamansa. "As minas estão a fazer muitas vítimas militares do lado aliado [guineense]", disse à Reuters Michel Diatta, membro da ala de César Badiate.
Até sexta-feira havia pelo menos nove mortos entre as tropas guineenses, além de "alguns" militares na explosão de uma mina, adianta a Reuters. Foi também o acidente com uma mina que provocou vítimas civis guineenses -12 mortos e 13 feridos -nos primeiros dias dos confrontos.
Segundo a Rádio França Internacional, seis homens de Salif Sadio ter-se-ão rendido às tropas guineenses nos últimos dias.
Apreensão em Bissau
A falta de informações sobre a situação no terreno está a preocupar partidos políticos e sociedade civil guineenses. Em Bissau, o PAIGC exigiu uma "cabal explicação"para a ofensiva do Exército. O PAIGC diz recear uma "caça às bruxas" e "tentativas de silenciamento" resultantes da situação no norte do país, depois de o Governo guineense, da confiança do Presidente Nino Vieira, ter acusado, sem dar nomes, militares e políticos guineenses de "conivência" com os rebeldes da Casamansa que combatem as tropas guineenses.
Carlos Gomes Júnior, líder do partido e opositor de Nino Vieira, foi demitido do cargo de primeiro-ministro quando este foi eleito Presidente da República e formou um executivo de iniciativa presidencial liderado por Aristides Gomes e composto por dissidentes do PAIGC.
A plataforma das organizações não governamentais da Guiné-Bissau alertou, por seu lado, para a evolução "preocupante" dos combates e das "deslocações em massa das populações". E manifestou preocupação com rumores que dão conta da detenção e intimidação de cidadãos acusados de delito de opinião e da existência de prisioneiros de guerra. Por fim, pediu esclarecimentos às autoridades sob pena das pessoas ficarem "apavoradas" com os rumores e a falta de informação.