O que a etiqueta não diz
QUANDOse fala em produtos chineses, normalmente vêm à conversa a mão de obra barata, os preços reduzidos e a qualidade duvidosa, mas há mais para contar nesta história.
A China tem-se tornado num destino apetecível para as grandes multinacionais e muitas das marcas da moda passam por lá. Porquê? O METRO foi descobrir.
“Marcas famosas como a Esprit, Calvin Klein, Christian Dior, Boss, Ted Lapidus, Nike, Sony, Toshiba, Motorola, Nec, Fujitsu, Hewlett-Pachard, Hitachi, Whirlpool, utilizam bases de produção na China, não só porque o custo é baixo, mas porque a qualidade do trabalho também é aceitável”, explicou ao METRO Fernanda Ilhéu, secretária-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, por e-mail. E acrescentou:
“Existem estudos que estimam que cerca de 40 a 50 por cento das exportações mundiais das multinacionais é feita na China.”
Para começar, o país conta com 760 milhões de trabalhadores, grande parte com baixas exigências salariais.
Na província de Wuhan, por exemplo, há ordenados de 53 euros. Em Guangdong, uma das províncias mais ricas do país, o salário mínimo mensal varia entre os 36 e os 69 euros (de acordo com um relatório da Confederação Internacional de Sindicatos, ICFTU na sigla inglesa, de Dezembro de 2005). Uma quantia bem distante dos 385,90 euros/mês portugueses. Feitas as contas, um empresário consegue contratar, com o salário mínimo de um português, entre cinco e dez trabalhadores naquela província— em Xangai, no entanto, um gestor pode ganhar mais de 738 euros.
Por outro lado, o baixo custo de produção não leva forçosamente a reduzir preços.
“Estes produtos [das grandes marcas] chegam ao consumidor aos preços que as marcas consideram ser mais apropriados com o seu posicionamento no mercado, independentemente do preço de custo que têm e portanto podem ser vendidos por preço elevado”, refere Fernanda Ilhéu.
O relatório alerta, no entanto, para situações ilegais em algumas empresas chinesas.
O documento da ICFTU garante que 700 milhões de chineses vivem com menos de dois dólares (menos de dois euros) por dia. Refere ainda que 15 mil pessoas morrem por ano em acidentes nas fábricas e que milhões de funcionários trabalham entre 60 a 70 horas por semana.
CLÁUDIA NUNES – METRO – 20.03.2006
NOTA:
Quando será que os europeus, e não só, boicotam as grandes marcas que, explorando a mão de obra chinesa, não baixam o preço dos seus produtos? Não seria preferível os europeus pagarem certos produtos um pouco mais caros, em vez de impostos elevados para cobrir os subsídios de desemprego? Não entendo esta globalização só a favor de alguns.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE