Por: Ricardo MAPOISSA
Hode é um povoado, no Posto Administrativo de Muxúngué, a cerca de 40 kms da Estrada Nacional n.1. Foi recentemente visitado pelo governador de Sofala, Alberto Vaquina, no quadro dos preparativos da visita do Chefe de Estado a esta província, que aproveitou para verificar o grau de cumprimento do programa quinquenal do governo.
Hode pertence ao distrito de Chibabava, um dos que registam maiores índices de crimes violentos, mormente homicídios voluntários; crimes que segundo apuramos tem origem principal problemas de natureza passional, pois não se tolera em Chibabava "meter a foice em seara alheia" (entenda-se: co-meter adultério). Isso pune-se com a morte, à catanada, do infractor. Não é assunto recente, nem é influência do último conflito armado onde as catanas tinham lugar de destaque.
Em Chibabava, a questão assume outros contornos, senão vejamos: Não são apenas os homens que reagem violentamente ao adultério, mas também as mulheres que agridem as suas rivais com contundência.
Dizia-me um amigo conhecedor profundo dos ndaus de Chibabava que estes tem um grande medo de serem aprisionados. Só que nem isso, porém, lhes consegue frear os maus instintos. E, co-mo dizia acima, esta agressividade não é consequência de problemas de hoje, já assim o são desde que são eles.
A construção duma cadeia é fundamental num local daqueles em que o crime prolifera e a corporação dispõe de meios exíguos para transportar os eventuais condenados aos locais de encarceramento. Entretanto, quer me parecer que a solução deste problema não reside aí. Não é pela existência de uma cadeia em Hode que o crime vai reduzir.
Existe ainda outro fenómeno em Chibabava que se pode concluir através destes dois pequenos episódios: Contava um responsável distrital que, uma vez, exactamente na sede do povoado, onde se ergueu o posto policial, as autoridades interpelaram um cidadão para exibir a licença da sua bicicleta. Gerou-se uma discussão porque o pobre do camponês não entendia porque o representante da autoridade insistia e, por via disso explicou ao camponês que deveria organizar-se para vir legalizar a sua bicicleta. Inconformado com a ordem, o camponês voltou à calada da noite e enforcou-se no local da discussão. Outro com contornos semelhantes ocorreu numa escola, onde dois irmãos vindos de Chibabava se encontravam internados no Centro. Quis o acaso que um professor se apaixonasse e começasse a namorar com uma estudante, por sinal irmã do mano. Este, o irmão, não aprovava a relação e disse à mana que não estava a gostar daquelas cenas que se protagonizavam no Centro. A mana transmitiu o recado ao professor-namorado que se sentiu ferido no seu orgulho. Quem julgava que era ele para interferir na sua relação? Que esperasse que havia de ver. E Viu. Não mais passou de classe a partir daí.
O moço enforcou-se, não sem antes amaldiçoar o professor que hoje, de professor já nada tem e faz das tripas o coração para continuar a vegetar.
Anda, o nosso país e a nossa província também, cheios de gente saída de instituições de ensino superior, graduada em Sociologia, Antropologia e outros que tais.
Não é momento de os governantes locais procurarem encorajar esses estudiosos para buscarem as causas sociais destes comportamentos e, melhor do que isso, apresentar soluções que ajudem a reduzir tantas mortes violentas em Chibabava?
E, como dizia o doutor Boaventura Aleixo, na sua aula de sapiência, por ocasião da abertura do Ano Académico 2006, na UP-Beira, urge que a Universidade prove a sua existência, melhorando o modo de pensar e de agir da comunidade onde está inserida. E Sofala já se pode considerar robusta quanto a instituições do Ensino Superior.
Será que não vale a pena experimentar ao menos?
O AUTARCA – 24.03.2006