Indianos frustam expectativas
Francisco Esteves e Rui Chicamisse
Fontes do Jornal Púnguè indicam que o consórcio indiano Rites and Ircon Internacional (Companhia dos Caminhos de Ferro de Moçambique-CCFB), que ganhou ano passado o concurso para a reposição do sistema ferroviário da Beira estão pouco ou nada interessados na execução da linha de Sena (que liga Dondo/Moatize). Em vez disso eles estão virados na exploração da linha Beira/Machipanda, donde amealham receitas em seu favor.
As fontes sustentam que tudo tem que ver com o facto de se registar atraso no processo de reabilitação da linha de Sena, um “monstro adormecido”, que é polo de desenvolvimento da província.
Ainda segundo as nossas fontes, dentre elas ex - trabalhadores da Brigada de Reconstrução da Linha de Sena (BRLS) que aguardavam pelo reinício das obras previstas para o passado mês de Janeiro do corrente ano, isto está dentro de uma manobra para tirar partido da exploração do sistema férrea Beira–Machipanda, que presumivelmente não apresenta avultados riscos de investimentos. “Os indianos parecem terem notado que vale a pena apostar na linha de Machipanda do que de Sena”, disseram.
Dados em poder do nosso Jornal indicam que até 2007 o troço Dondo/Muanza estará reabilitado.
Até este momento não é visível nenhuma acção/resultado no terreno, concretamente equipamento e recrutamento da mão-de-obra que se calcula em 1600 homens, abrindo certo cepticismo relativamente ao cumprimento da meta de reabilitação de cerca de 90 quilómetros de linha férrea, isto é de Savane onde ficou interrompido à Muanza, até 2007, segundo garantia dada ao ministro Munguambe pela CCFB.
As nossas fontes recordaram “ao tempo em que o processo de reabilitação estava a cargo da empresa Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), financiado pelo Banco Mundial, tudo estava a correr em conforme e hoje a cargo dos estrangeiros a quem os moçambicanos depositavam confiança na celeridade dos trabalhos de reabilitação o mesmo segue rumo contrário, denotando-se muita morosidade”.
“Os indianos são inexperientes no tipo de trabalho que vão realizar nesta linha”, criticaram aqueles trabalhadores sazonais, muito deles desesperados por se acharem excluídos nos trabalhos da CCFB.
De Abril de 2003 à Outubro de 2004, altura da paralisação da reabilitação que estava a cargo da Brigada de Reconstrução da Linha de Sena, foram repostos cerca de 40 Quilómetros de linha férrea, isto é, troço Dondo/Savana.
Dois meses antes da cessão da BRLS, de acordo com os sazonais, sem dispor de grandes recursos, o trabalho seguia um ritmo acelerado usando a força física.
CA//Reacção dos CCFB
Contactada a CCFB, através do seu director do projecto de implementação da unidade (Project Implementation Unit-Sena Line), T.S.B. Singh, ficámos a saber que, “se forem no terreno na zona de Savana e Inhamitanga, encontrarão mais de cem homens em diferentes pontos a aguardarem pela chegada do equipamento, previsto para dentro de 4 a 5 meses.
Por se tratar de equipamento importado que passa por regularização das obrigações aduaneiras, não queremos aqui arriscar em indicar a data do arranque das obras”.
Singh garantiu que todo esforço será feito de modo a se cumprir com o tempo acordado com o Governo moçambicano e outros parceiros segundo o qual até 2009 o sistema férrea de Sena estará operacional .
No que diz respeito à linha de Machipanda, cujo maior utilizador é o vizinho Zimbabwe, país afectado por crise económica, a nossa fonte referiu que apesar de estar operacional a mesma necessita de alguns trabalhos de manutenção de modo a que o tráfego seja feito sem dificuldades.
O director do projecto de implementação da unidade desmentiu haver intenção em extrair lucros da linha Beira/Machipanda, mas sim torná-los operacional, porque tanto a linha Beira Machipanda como de Sena oferecem maiores oportunidades para o desenvolvimento da província e do país em geral.
Em relação ao material fabricado localmente, como é o caso das travessas, cuja indústria foi adjudicada ao consórcio Ceta/Rain Con, Singh disse que tudo mostra que não haverá problema de fornecimento deste material.
O Banco Mundial investe na reabilitação da linha de Sena 165 milhões de dólares americanos (USD), enquanto que o consórcio indiano comparticipa com 55 milhões de USD e o restante valor pela empresa CFM.
De salientar que concorreram para a gestão do sistema férrea da Beira consórcios sul africano, chinês e zimbabweano, tendo vencido o consórcio indiano que apresentou uma proposta de inclusão de mão-de-obra moçambicano no processo de reabilitação, ficando a responsabilidade técnica a cargo da Rites and Ircon International.
Recorde-se que a cerimónia do testemunho foi assistido pelo presidente cessante Joaquim Chissano no dia 21 de Outubro de 2003.
PÚNGUÈ – 09.03.2006