Combustíveis sufocam agricultura
À semelhança do que acontece na Pesca, propõe-se que o governo retire os impostos aos combustíveis usados na agricultura.
Os altos custos de combustível que estão sempre a subir no país encarecem sobremaneira os custos de produção agrícola no distrito de Báruè na província central de Manica, disse ao «Canal de Moçambique», Filipe Erasmo, proprietário da empresa agrícola «Cataratas Investimentos». Mas não é só isso. É muito mais. É quase tudo. É sobretudo quem quer produzir e construir o país – como diria o poeta – a «a ser chutado para canto por quem só se preocupa em debitar discursos, passear a sua indiferença e assobiar falso nacionalismo».
Segundo aquele agricultor o facto de só se poder abastecer de combustível na vila municipal de Catandica, a cerca de 50 Km da zona de produção, em picada em mau estado, também concorre para o agravamento dos custos de produção.
A fonte referiu que o problema dos combustíveis, pelo menos naquele ponto da província de Manica, exige que o governo passe a subsidiar o combustível para a agricultura “à semelhança do que acontece na área das pescas”.
Segundo Filipe Erasmo, o governo retirou o peso dos impostos aos combustíveis para tornar o sector das Pescas mais atractivo e competitivo. Ele pede o mesmo para a agricultura considerada de importância vital e base do desenvolvimento do país.
No sector das pescas, é do domínio publico – basta ler-se a terceira série de vários Boletins da República – quer o ministro do sector, Cadmiel Muthemba, quer destacados membros do Comité Central do partido Frelimo no poder, quer mesmo Armando Guebuza, agora presidente da República, têm fortes interesses em empresas pesqueiras, quer através de licenças de Pesca que adquiriram e têm cedidas sob aluguer a vários armadores industriais e semi-industriais, quer mesmo por participação nominal no capital social de empresas do ramo. Estes factos remetem os agricultores para a área da legitimidade quando avançam propostas tendentes a conseguirem o mesmo grau de protecção do Estado concedido aos armadores.
Por outro lado, Erasmo considera ainda que uma linha para o transporte de energia eléctrica para o Bárue é de importância vital para que a agricultura se possa desenvolver.
De acordo com o nosso interlocutor, os agricultores se pudessem dispor de energia eléctrica deixariam de usar combustível para a laboração dos geradores e das bombas de irrigação do que resultaria também decréscimo nos custos de produção.
“Se tivéssemos uma linha de energia eléctrica, eu acredito que o combustível seria usado só para viaturas e tractores e não para as operações de produção nas farmas, como acontece agora”, disse a fonte.
Erasmo acrescentou que uma equipa da Electricidade de Moçambique (EDM) esteve no Bárué com o intuito de equacionar a possibilidade de se instalar uma linha de transporte de energia eléctrica a partir do município de Catandica, sede do distrito, mas até agora não aconteceu absolutamente mais nada, na prática.
“Os agricultores da província de Manica consideram de sufocante o custo dos combustíveis que usam na laboração de máquinas de geração de energia eléctrica e nas motobombas de irrigação”.
A «Cataratas Investimentos» está estabelecida na localidade de Buetoni, distrito de Bárue, desde 2001, dedicando-se à cultura de tabaco.
Os campos de produção distam 50 quilómetros do município de Catandica, capital do distrito do Báruè, a Norte da província de Manica. A picada que dá acesso à farma só permite o acesso com alguma segurança em viaturas com tracção às quatro rodas (4x4).
Erasmo considerou o custo dos combustíveis como o maior constrangimento dos operadores agrícolas do distrito do Bárue. Para elucidar, deu exemplo da sua farma. Usa pouco mais de dois mil USD por mês em combustível, cerca de 50 milhões (MT) ao câmbio de 25 mil (MT)/USD.
“A minha empresa gasta cerca de 2 mil/usd/mês em combustíveis para accionar as motobombas e pôr a funcionar os geradores de energia eléctrica”.
Para além dos custos de funcionamento dos meios de produção ainda há custos que os farmeiros têm para irem adquirir o combustível a Catandica – 100 Kms ida e volta. “No distrito de Bárue, onde está a nossa propriedade e outras, não existe posto de reabastecimento; só existe uma bomba de combustível em Catandica. É outro problema”, lamenta-se.
“As vias de acesso estão completamente degradadas e requerem reabilitação imediata”. Isso também “afasta os investimentos” e “encarece a produção agrícola”. Encarando com atenção tudo isto e com menos reuniões, seminários, etc., as autoridades do Ministério da Agricultura conseguiriam promover mais desenvolvimento ao País, mas isso está longe de acontecer. Fala-se muito e faz-se pouco ou quase nada. Os fundos destinados ao desenvolvimento da agricultura são “derretidos” em tudo menos onde devem ser aplicados. Disso se queixam não só os agricultores do Bárue. É da geral que nos chegam estas lamentações que aqui apenas resumimos e que deixam bem claro o grau de indignação que cresce no país perante a total indiferença dos agentes do Estado aos apelos dos cidadãos que querem produzir e só encontram barreiras dos funcionários e cada vez mais «deixa andar» apesar dos constantes apelos do Chefe de Estado.
A falta de serviços de telefonia, móvel ou fixa é outro constrangimento. Só em sítios elevados é possível conseguir-se sinal de telemóvel. Há falta de antenas nas zonas de produção. Mas, paralelamente, onde a preocupação é apenas a dita “dignidade social”, continuam a imperar investimentos supérfluos que não acrescentam valor. Os agricultores só pedem um pouco de mais maturidade de quem decide para que possam ter mais oportunidade de contribuirem para o desenvolvimento do País.
“Seria bom que as empresas de telefonia móvel colocassem antenas para permitir a comunicação no distrito”, disse a fonte.
Noutro desenvolvimento, tal como os agricultores de Gaza nos diziam há dias, também os de Manica se queixam da falta de financiamentos à agricultura. A falta de instituições bancárias nas proximidades dos locais de produção para permitir o depósito das receitas dos operadores em particular e da própria população ou trabalhadores em geral, também é problema. Apesar destas e doutras insistentes lamentações, o Estado não muda; os políticos não mudam, só falam, reúnem mas soluções concretas continuam a ser desejadas por quem está nas frentes de produção.
“Tenho mil hectares para o fomento de tabaco, mas deste universo só consigo explorar 60 hectares, estando os restantes hectares dependentes do financiamento”, disse.
Acrescentou que naquela extensão de terra produz anualmente cerca de 130 toneladas, dados obtidos à porta da «MLT» (Mozambique Leaf Tabacco). O último preço de venda foi 1.6 usd/kg. O nosso interlocutor também se queixa do preço. “Não compensa tendo em conta os custos de produção”.
S. Macanja - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 05.04.2006