ADELINO BUQUE
Aquilo que, aparentemente, foi criado para nos orgulhar até pode acabar por nos ridicularizar, quando não soubermos o seu real âmbito de aplicação!
Eu, tal como muitos outros cidadãos, sabemos que o “Made in Mozambique” pretende chamar o nacional para o orgulho do que faz e assenta em três pilares base, a saber:
1) Produção nacional, aqui subentende-se tudo o que é produzido localmente sem respeitar as famosas regras de origem.
2) Consumir moçambicano, com este slogan pretende-se dar primazia ao consumo de tudo o que é produzido localmente. Entende-se por local a produção nacional.
3) Exporte moçambicano, com este slogan pretende-se incentivar a produção que seja exportável, quer dos produtos tradicionalmente exportados quer através de novos produtos exportáveis, diríamos até de forma ousada novos mercados.
Diríamos que estes são os pilares, mas naturalmente para se aceder a este título e ser designado por tal deve reunir uma série de requisitos que se quiser contacte o Ministério da Indústria e Comércio. Digo isso porque, contrariamente aos slogans, os mecanismos de aceder nunca foram publicitados!
Talvez por isso fiquei indignado quando, na semana finda, vi estampado num avião das Linhas Aéreas de Moçambique o “Made in Mozambique, ORGULHO MOÇAMBICANO. A ESTAMPAGEM ESTÁ LIGEIRAMENTE AFASTADA DO NOME DA COMPANHIA, PORTANTO LAM, o que, à primeira vista, este “Made in Mozambique” nada tem a ver com a LAM, pelo menos para quem lê pode, de forma inocente, pensar que Moçambique se orgulha de ter produzido um avião ao serviço da LAM, ou por esta companhia adquirido, o que deixaria muita gente que nos conhece estupefacta.
Na verdade e em boa verdade, até nos pode doer: é que nós não produzimos sequer uma bicicleta no país. Produzíamos, mas, hoje por hoje não, não produzimos uma bicicleta sequer e agora um avião?!
Aquilo que foram os discursos dos dirigentes locais quer os ministros quer o próprio Eng. Viegas serviu para quem esteve atento ao discurso, não o será para quem venha a ler aquela estampagem, que certamente orgulha a Linhas Aéreas de Moçambique, o Governo da República de Moçambique. Segundo as expressões faciais dos ministros Munguambe e António Fernando, de certo não irá convencer os diferentes utilizadores daquele meio, salvo se reproduzirem os discursos ao longo de cada voo!
Esteja claro, eu não digo que a LAM não pode aceder ao “Made in Mozambique” naquilo que faz, mas estampar isso num avião penso que se excederam um pouco, até cheira a ridículo, mas, como diria um emergente treinador da nossa praça quando questionado sobre as vitórias que não aparecem na sua equipa, “os cães ladram e a caravana passa”. Tal é a força da caravana!
Coincidentemente, este treinador está na colectividade patrocinada por este novo e primeiríssimo
“Made in Mozambique”.
A terminar, sugiro que, quando emprestamos termos sobejamente conhecidos para designar aquilo que nós convencionamos, temos de ter presente o cuidado de não criar confusão. O termo made in é usado mundialmente para traduzir a expressão “produzido em”, daí que o seu âmbito de aplicação deve ser
cuidadoso, mas que éridículo ver naquele avião “Made in Mozambique” é.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 25.04.2006