- O governador da província, Carvalho Mwária, diz que os produtores só exploram uma área de 6.500 hectares, num total de 20 mil, concebidos para a cultura de chá
Carvalho Mwária, governador da Zambézia, província famosa pelas suas potencialidades agrícolas cuja fama ultrapassou fronteiras levada pelos aromáticos chás do Guruè, disse ontem ao «Canal de Moçambique» que as áreas disponíveis para a produção da cultura de chá estão a ser mal aproveitadas pelos produtores.
Segundo Mwária, a Zambézia tem uma área de 20 mil hectares propícios à produção de chá, mas, desse universo, os produtores só exploram um total de seis mil e quinhentos hectares, sensivelmente um terço da área global.
O governador referiu que a produção gerada na área actualmente em produção, é processada nas três fábricas, instaladas nos distritos de Gurué e Ile. São apenas 3.
Dados na posse do «Canal», indicam que período antes das sucessivas guerras por que Moçambique passou, desde a pela Independência empreendida pela Frente de Libertação de Moçambique até à Guerra Civil entre o regime monopartidário implantado pelo partido Frelimo e os vários grupos de inconformados de onde se destacou a Renamo, a província de Zambézia chegou a contar com um total de 12 unidades fabris que empregavam pouco mais 30 mil trabalhadores.
A maioria das fábricas naquele ponto do pais refere no entanto o Governador foi destruída pela guerra dos últimos 16 anos – a Guerra Civil – sem dúvida a mais fratricida de todas por que o País passou nas últimas quatro décadas. “As únicas três unidades que neste momento estão em funcionamento, empregam apenas 30% daquele universo”, referiu o governador.
Considerou a inoperacionalidade das fábricas e o sub-aproveitamento de largos hectares de terra concebidos para a produção de chá, como um fenómeno que concorre para a debilidade da cultura de chá na Zambézia.
O timoneiro da Zambézia não estabelece qualquer relação entre a situação que descreveu, neste caso em que o alvo é o chá, e as inúmeras preocupações que os agricultores estão há anos a mencionar perante a total indiferença das autoridades agrárias, designadamente os elevados preços dos combustíveis para a agricultura, estradas sem manutenção e estado de abandono tal que onera imenso os custos de utilização de viaturas, ausência total de financiamento às actividades de alto rendimento agrícola, inexistência de agências bancárias nas zonas de produção, inexistência de comunicações, excesso de burocracia e uma infinidade de outros aspectos tantas vezes mencionados pelos operadores interessados e tantas mais vezes ignorados pelo Estado e por quem o tem dirigido.
O governador, que é novo na Zambézia, voltou a repetir o já tantas vezes dito: que, outrora, a província de Zambézia foi uma das referências mundiais no cultivo e distribuição de chá, tanto em Moçambique, como no mercado externo. Embora animador para os agricultores saberem que o timoneiro da província tem isso presente, eles queixam-se e alegam que não basta que se repita isso, sem que se aja para inverter o actual estado de coisas no terreno tantas vezes salientado pelos agricultores.
“As suas 12 fábricas, processavam na altura acima de 90 mil toneladas de chá destinadas ao consumo doméstico e externo”, disse.
“Hoje, a produção baixou para pouco menos de 11 mil toneladas” , lamentou-se Carvalho Mwária.
Destacou noutro desenvolvimento que “o governo provincial da Zambézia tem procurado formas junto do sector privado para revitalizar a indústria de chá e os campos abandonados pelos tradicionais produtores da cultura”.
“Estamos a trabalhar no sentido de encontrar investimentos para revitalizar da indústria de chá destruída pela guerra que opunha os partidos Frelimo e a Renamo”, acrescentou num tom de certa forma inédito porquanto não é costume um dirigente assumir que não é apenas a Renamo que tem responsabilidades no drama que trouxe Moçambique ao caos relativo em que ainda hoje se encontra, mas também a Frelimo. Tal afirmação trás mais valias pelo menos ao discurso que ultrapassa o conflito e vai em busca da reconciliação indispensável para que os investidores se lancem para zonas do país mais interiores.
Faltará ao Governador perceber o que nós já ouvimos ao longo que anos do que a ele e outros com o seu estatuto terão de fazer para por fim à quota parte do aparelho de Estado no actual estado de coisas no terreno. Não basta que diga “vamos fazer”, “estamos a estudar o assunto”. As pessoas querem avançar e sabem o que os governantes têm de fazer e ainda não se convenceram: Falta-lhe tomarem medidas para que não sejam os próprios funcionários, o seu laxismo e a sua prepotência os próximos obstáculos a deitar abaixo para que os empreendedores se convençam definitivamente a crer no futuro de Moçambique. E do chá designadamente.
A província da Zambézia é a província mais extensa do país e talvez mais populosa, com um total de 3.710.011 habitantes, seguida de Nampula, com cerca de 3.700 habitantes. (S. Macanja)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 04.04.2006