Por Fernando Lima
Massingir é terra de elefantes. Kambako para os profissionais que cruzaram a savana árida não muito longe do Krueger Park sul-africano. Caçadas épicas na coutada 16, agora parque nacional que alguns dos entendidos entendem não ter sido bem negociado com o nosso poderoso vizinho. Massingir é a oeste do Chókwè, o celeiro da nação sonho que antes foi sonho de um engenheiro agrónomo português de Trás-os-Montes e que para ali levou os seus conterrâneos pobres. As máquinas do sonho, do outro sonho pós-independência, as combinadas para apanha do arroz, os grandes tractores preparados para lavrar terras difíceis são montanhas de ferrugem nos parques que teimosamente ostentam “grafitti” de elogio ao marxismo-leninismo. A água continua a correr muita por um canal que a volta a devolver ao rio Limpopo. Não se rega capim e capim é o que há demais no celeiro da nação. Pertinho estão machambas secas de milho que, no finta-finta com a chuva, não chegaram à eliminatária seguinte. Um dos “kambakos” do “celeiro da nação” dedica agora as suas energias a uma ong religiosa. Ajuda as comunidades essa nova palavra do léxico desenvolvimentista moçambicanês. Na estrada que vai do Chókwè a Massingir o milho amarelado antes de espigar prenuncia fome para a população da zona que não faz carvão. Por causa da reabilitação da barragem, Massingir vila agora tem água potável canalizada e electricidade. Mas é como se não tivesse. É uma vila triste, esburacada e poeirenta. Como se tivesse parado no tempo, em 1977 quando a barragem que tem o nome da localidade foi construída. A barragem não funcionou. Houve deficiências. A vila ficou um ponto no mapa, anexo ao enorme paredão que queria domesticar as águas do rio dos Elefantes. Bovinos e caprinos circulam livremente pelas ruas concebidas para outro tipo de movimentos. Quase 20 anos depois, a barragem promete finalmente cumprir os desígnios para que foi concebida em 1972. A água já eliminou as ilhas da albufeira. Os descarregadores de fundo já debitam caudal para Macarretane, a ponte-açude que desvia a água para o regadio do Limpopo. Prenunciam-se melhores dias para Massingir. O parque de caça tem entrada logo depois da barragem. Os turistas vão começar a chegar em breve. Há famílias que vão mudar de vida. Os pescadores que a água da albufeira obriga a procurarem abrigos mais elevados. Os que não podem ficar no parque dividindo machambas e pastos com animais bravios. Os que têm casa e abrigo a jusante da parede da barragem. São os abrangidos pelos reassentamentos. Compreendem o progresso, mas gostariam que pelo menos, essa palavra bonita e esperançosa lhes passasse ao lado das casas e haveres. Porque é complicado mudar uma vida. Há os jovens, principalmente do Sul do Save, que na obra da barragem esqueceram o drama do desemprego, depois da escola. Depois da barragem é preciso procurar novo emprego. A 9ª. classe e a 12ª. não garantem nada. O futuro de Massingir ainda tem muitos pontos de interrogação.
SAVANA - 31.03.2006