Instalada em Nampula, a estação permitirá estudar a tectónica de placas em África.
Desde 12 de Abril que Moçambique tem a primeira estação permanente de GPS (Global Positioning System), sistema que permite obter o posicionamento geográfico em tempo real. Situada no Norte do país, em Nampula, a estação foi instalada pelo Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa (CGUL), em colaboração com a Direcção Nacional deTerras de Moçambique e o Observatório Rádio-Astronómico Hartebeesthoek, na África do Sul.
Rui Fernandes, investigador do CGUL e professor da Universidade da Beira Interior, na Covilhã, considera que esta estação é muito importante do ponto de vista cientifico. "Permite estudar a tectónica de placas do continente africano, mais precisamente a fronteira entre as placas tectónicas da Núbia e da Somália, que dividem o continente em dois blocos."
Esta é uma das fronteiras de placas mais complexas do planeta, uma zona activa onde a 22 de Fevereiro ocorreu um sismo com magnitude de 7 na escala de Ricther.
A nova estação GPS irá também fazer parte do Afref, sistema continental de referência geodésica para África, o equivalente africano ao sistema europeu Euref, mediante o qual todos os países adoptam as mesmas coordenadas e referências. Desta forma, não há discrepâncias na determinação das localizações.
"Pensemos em Cascais. Tem coordenadas que variam ao longo do tempo, devido à tectónica de placas. Com o sistema Euref, as coordenadas de Cascais vão ter uma posição oficial, em termos de latitude e longitude. Esta estação GPS em África, ao fazer parte da Afref, irá contribuir para que haja compatibilidade de referências geográficas entre países", explica Rui Fernandes.
Uma outra vantagem desta estação é o facto de contribuir para minimizar os erros no cálculo das órbitas dos satélites, que é baseado em posições terrestres. "É preciso ter uma rede de estações GPS de coordenadas conhecidas espalhadas pelo globo para que o ajuste seja o mais uniforme possível", explica Rui Fernandes.
"O grande problema internacional é que a maior parte das estações estão concentradas na Europa, Estados Unidos e Japão. Ao aumentar o número de estações permanentes noutros continentes está a contribuir-se para um ajuste mais uniforme."
Esta estação é também a primeira na África Austral a receber o sinal de satélites do sistema de posicionamento russo GLONASS, o que permite ajustar com mais precisão a diferença entre pontos geográficos.
Tal como todas as outras estações GPS permanentes do mundo, a de Moçambique terá de ser actualizada quando estiver disponível o sistema de referenciação geográfica europeu, o Galileu, que está ainda a ser desenvolvido. As antenas poderão não estar preparadas para o efeito, visto que os receptores não foram desenhados para o novo sistema europeu.
PÚBLICO - 23.04.2006