Zimbabwe
O presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe acaba de convidar os antigos farmeiros, a quem ele próprio mandou expropriar terras, a concorrerem à sua reaquisição em «leasing» por 99 anos.
Trata-se das mesmas terras confiscadas há seis anos e que Mugabe mandara entregar a farmeiros negros que pelos vistos fracassaram na manutenção dos mesmos índices de produtividade agrícola que tinham os antigos proprietários expoliados.
Esta nova posição do presidente Mugabe constitui uma viragem radical do executivo daquele país, hoje a braços com uma crise sócio-económica sem precedentes, em grande medida, resultante da polémica reforma agrária e outras medidas populistas que transformaram o país que já fora um dos maiores produtores agrícola em país dependente da ajuda alimentar externa na região da SADC.
O governo zimbabweano já abordou a «União de Farmeiros Comerciais» no sentido dos seus membros submeterem pedidos para que lhes sejam atribuidas de novo as terras após o fracasso dos farmeiros negros.
O vice-presidente da «União de Farmeiros Comerciais», Trevor Gifford refere que a sua associação já remeteu ao governo 200 pedidos que “esperamos tenham tratamento favorável”.
“Brevemente teremos de novo os nossos membros a trabalhar a terra”, afirmou Gifford. Estima-se em 4 mil o número de farmeiros que foram despojados de suas terras sem nenhuma espécie de compensação, há seis anos atrás. Uma pequena parte desses farmeiros está neste momento a explorar a terra no território moçambicano, com maior destaque para província de Manica que devido ao fenómeno tem conhecido um acentuado crescimento na produção agrícola em moldes comerciais.
De acordo com Didymus Mutasa, ministro da Segurança do Zimbabwe, parte considerável de farmeiros negros a quem foi distribuída terra confiscada aos farmeiros brancos não está a conseguir produzir em qualidade e quantidade tal como o faziam os anteriores proprietários.
O argumento então dirimido por Mugabe e seus pares foi de que com a confiscação de terras aos antigos farmeiros pretendia-se corrigir a situação colonial que havia deixado os fameiros de raça branca na posse das melhores terras aráveis em detrimento da maioria negra que se encontrava confinada em terras pobres.
No entanto, vozes da sociedade civil e oposição zimbabweana, não só criticaram a medida, como também se queixaram de que a tal distribuição estava apenas a beneficiar a nova classe de burgueses negros oriundo, sobretudo, da nomenclatura do partido ZANU de Mugabe e oficiais superiores das Forças Armadas que em muitos casos nem sequer tinham vocação para a actividade agrícola e, muito menos, experiência de agricultura comercial de grande escala que fizera do Zimbabwe um país de referência e um grande exemplo económico em África, com capacidade até de fazer sombra à África do Sul.
Actualmente mais de um terço da população do Zimbabwe vive dependente de ajuda alimentar. Isso é hoje atribuído à medida governamental de expropriação das terras que agora estão a ser devolvidas em sistema de «leasing».
A anterior medida “populista” e outras sucessivas medidas consideradas pela oposição disparatadas são hoje consideradas as causas principais do enorme exército de desempregados que anteriormente trabalhavam nas farmas confiscadas, nas industrias agro-alimentares e de meios agrários e de serviços conexos que entretanto foram fechando com o colapso provocado por Robert Mugabe.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 24.04.2006