Baía de Maputo
“O presidente Guebuza prometeu-nos durante o comício que o Governo iria nos apoiar. Só que o apoio prometido ainda não chegou”, disse Augusto Cuna, representante dos pescadores.
O ano pesqueiro arrancou em Março, com o fim da veda. Os pescadores artesanais, que operam na Baía de Maputo, na margem da Catembe, já reclamam, o apoio que dizem ter-lhes sido prometido pelo presidente da República, o ano passado, após tomar posse. Segundo Augusto Cuna, um dos representantes dos pescadores artesanais da Catembe, a promessa de Guebuza foi feita ano passado, durante um comício, aquando das digressões, do então recém eleito presidente, pelo país que na altura apelidou de viagens para agradecer às populações o facto de terem votado nele em Dezembro de 2004.
O que parece amargurar aqueles pescadores que, dizem, acreditaram na palavra do presidente da República e por definição constitucional também chefe do Governo, é que o tal apoio tarda a chegar.
“O presidente Guebuza prometeu-nos durante o comício que o Governo iria nos apoiar. Só que o apoio prometido ainda não chegou”, disse Cuna.
De acordo com Augusto Cuna o apoio que os pescadores querem do Governo e “foi prometido” por Armando Guebuza é: Construção duma espécie de terminal pesqueira, com câmara frigorífica, para guardarem o produto da faina, bem como apoio financeiro, através do «Fundo de Fomento Pesqueiro», para a compra de motores, para os seus barcos, “fora de bordo” de 15 a 20 CV, no mercado avaliados entre 50 e 80 milhões de meticais, consoante o caso.
“Isso tudo apresentámos por escrito durante o comício. Continuamos à espera da promessa”.
Segundo o representante dos pescadores, o grande problema que enfrentam, a ponto de terem pedido ajuda do Governo, deve-se ao facto de não conseguirem penetrar no circuito de crédito bancário.
Para Cuna, o grande problema que enfrenta a classe é a sua incapacidade de satisfazer as exigências da banca comercial por forma a acederem à concessão de créditos. Referiu ainda os juros que a banca exige.
Disse serem insuportáveis para a maioria dos pescadores artesanais. “São elevados”. Os “poucos” pescadores já se “atreveram a contactar os bancos para pedir créditos não conseguiram ser elegíveis”, afirmou. “Disseram-lhes que é não terem bens de garantia exigidos pela banca”.
“O governo deve comparticipar na compra de equipamentos de pesca e na compra das embarcações através de fundos apropriados para o benefício não só dos pescadores e seus empregados em si, mas também para a comunidade em geral”, afirmou e prosseguindo disse:
“É que a pesca beneficia, ainda que indirectamente, a muitos vendedores cujo único meio de sustento é a comercialização de mariscos”.
“Por outro lado, havendo muita pesca os próprios preços do pescado tornam-se relativamente acessíveis e, muita gente, tem poder para comprá-lo”.
“Portanto, como se vê, a partir da na nossa acção há uma enorme cadeia de beneficiários que inclui o próprio Estado, que no meio de tudo isto acaba cobrando os respectivos impostos a todos os níveis da mesma cadeia”. Falando da urgência com que precisam de frigoríficos, Augusto Cuna disse que “não temos câmaras frigoríficas para produção de gelo ou mesmo para guardarmos marisco. Por vezes, nos dias de boa pescaria, somos obrigados a vender muito barato para minimizarmos as perdas”.
“Vezes há em que temos que deitar fora pescado já decomposto”, afirmou.
Cuna, visivelmente irritado com o andar das coisas, anotou que “se o governo quer, na verdade, acabar com a pobreza absoluta deve mudar a sua forma de actuação.
Deve aproximar-se com sinceridade e não com falsas promessas aos pescadores para conhecer os seus reais problemas do quotidiano”.
“No passado nós sobrevivíamos porque havia empréstimos bancários”.
Presidente da Associação dos Pescadores da Catembe
No concernente às promessas feitas pelo governo, o «Canal de Moçambique» ouviu também o presidente da Associação dos Pescadores da Catembe (APC), Eustério Cardoso Diogo, que confirmou ter sido ele quem entregou pessoalmente o pedido por escrito ao Presidente da República, Armando Guebuza, na última visita que realizou no distrito Municipal da Catembe.
“O PR disse-nos, aqui na Catembe, que ia ver com o seu elenco quais seriam as possibilidades de fortalecer a comunidade de pescadores. Mas, nem água vem nem água vai”, rematou Diogo.
(Carlos Humbelino) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.04.2006