Érico Manjate
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A GLOBALIZAÇÃO
Parece-me que para eles é prudente que não há capacidade africana para andar-se pelos próprios pés, sendo bom que África continue dependente, a todos níveis, pois poderão apresentar-se sempre como os salvadores e não os reais exploradores de um continente (in)capaz de andar por si próprio, sem as constantes ingerências externas que mais tiram que deixam com suas pseudo ajudas.
Olhando para a realidade Africana, no contexto da globalização, temos de ter em conta o facto dela valorizar a adaptabilidade e a rápida capacidade de resposta, pois o mercado "globalizante" é mais competitivo e sofre mudanças mais rápidas do que os mercados nacionais, ficando claro que somente aquela "micro-milionésima" fracção dos seus afro-afectados que conseguirem adaptar-se por meio de recursos flexíveis como terra, educação, poupanças, etc. É que ganharão com a globalização; e, que a "macro- maioria" dos seus afectados e que "sub-sobrevivem" em locais em que os meios de vida já são precários, possuindo pouca formação para que se adaptem a estas dinâmicas, ficarão ainda mais vulnerabilizados e indigentes, porque somente são prioridade a nível dos discursos académicos e políticos, pois na pratica este modelo de relacionamento proposto pela globalização, beneficia claramente os primeiros e a maioria Africana, Asiática e da América latina que se dane (como sempre).
Outro problema, deriva de conscientemente ignorar-se que esta potencial assimetria será incrementada pela globalização derivada da sua capacidade para beneficiar o capital social e humano, pois nela, as populações mais carentes dos países sub- desenvolvidos serão novamente marginalizadas à medida que os segmentos sociais privilegiados do ocidente e as pequenas elites nacionais beneficiem-se do maior acesso a informação, formação e serviços, incrementando a inaptidão de uns de sobreviver e incrementando as aptidões dos outros de parasitar, pois, possuirão capital, conhecimento e uma legislação gerada da dependência de seu lado.
Assentes na académica premissa, que sustenta que, se as ideias e informações forem compartilhadas, os diferentes membros de uma sociedade tendem a organizar-se melhor para acessar, usar e repartir equitativamente os recursos de modo a proporcionar mudanças positivas nas suas vidas, pois estes factos a longo prazo, aumentam o seu capital social e humano, temos assistido a proliferação de projectos que tem este axioma na capa dos seus objectivos, e que tomam como cavalo de batalha para angariar Euros que eles garantirão que as vozes dos pobres serão fortalecidas pelo seu trabalho pois, após o seu trabalho, estas camadas desfavorecidas terão adquirido níveis de organização e conhecimento que os ajudem a influenciar os tomadores de decisões e a organizarem o seu desenvolvimento a nível local.
Isto é a mais pura mentira.
Pois, estes projectos, muitas vezes concebidos de modo totalmente laboratorial (ignorando as especificidades locais e sem estudos prévios fiáveis) e por interesses financeiros pessoais de quem pede e de quem dá o dinheiro, acabam somente distraindo- nos pelos quiméricos números de pessoas e grupos organizados (não poucas vezes forjados e que vão se acastelando até chegarem aos milhões lidos em Washington), perdendo-nos de vista o facto de que as populações menos privilegiadas, visíveis e locais nas comunidades ficaram em situação mais crítica porque os recursos acabaram nas mãos de uma milionésima fracção de membros desses grupos, (as pequenas elites locais) e que os mais pobres dos pobres, aqueles que não dispõem de capital social, económico ou académico não beneficiaram-se do projecto e cerca de 80% dos recursos investidos e 60% dos recursos locais já se encontram em bancos do ocidente em nome dos nacionais e estrangeiros que vinham de modo "desinteressado" ajudar.
O lado negro da globalização é catalizado pelo facto de o seu sistema, se pelo menos não toma-se em conta as nossas vantagens comparativas, de modo a enquadrá-las decentemente no xadrez de seus processos, de forma a que pudéssemos ter uma mais valia, que não se assentasse num orquestrado modelo que acentua nossas fragilidades de modo a agravar a nossa situação, (veja a invenção dos selos - verde por exemplo- com padrões claramente fora do alcance de alguns e a chacina dos subsídios a agricultura lá), e se nos rebelamos e não alinhamos nos esquemas que nos são impostos os pretextos de falta de democracia, falta de transparência, a corrupção nas muitas vezes eles participam (e também em seus países), beneficiam e fomentam vem ao de cima e para rachar a lenha, o abandono e/ou sanções são a esquina imediata.
E é melhor efectivamente que não tenhas recursos, é melhor que aceites a injustiça, pois se os olhos do Tio Sam são postos em algo teu, ou tu te rebelas porque hoje eles literalmente mandaram passear um acordo rubricado consigo, a ONU que os siga para te tirarem as galinhas dos ovos de ouro, e nem podes reclamar. Quem duvida pense no Iraque, Zimbabwe e nas petrolíferas da Nigéria.
Temos também de ser atentos ao facto da abertura dos mercados ser unilateral, pois na prática não sei se com a tal globalização, ficará mais fácil para os empresários de sucesso e com espírito empreendedor e criativo, (Moçambicanos por exemplo) levarem o seu camarão e/ou madeira para os mercados da comercialmente "liberal" União Europeia, e/ou EUA, (principalmente se eles tiverem capacidade de o produzir, com qualidade mas a preço exorbitante, vejamos que a pouco tempo Bush "foi aos arames" porque a China exporta para os EUA mais do que importa, não porque fuja ao fisco) e, não sei se a Mozal, Gaz de Pande, HCB, as petrolíferas em Angola, Nigéria estão a beneficiar ao Africano comum, ou se a extensão dos benefícios destes projectos não se resumem as Sommershield, Museu e Polana Cimento, espalhados por estes países, astros de residência das elites, o que leva-me a questionar se está existindo uma abertura de todos mercados, para todos, pois creio estar claro para todos que surgiriam mais oportunidades se a globalização estimulasse um crescimento na demanda mundial por diversos produtos e de diversas origens, potenciando competitivamente e de modo eficiente os mais frágeis, mas, ao invés disso o mercado dos países sub-desenvolvidos é que esta sendo usurpado pelos que estão ficando sem mercado nos países desenvolvidos, servindo a globalização simplesmente para resolver a falta de mercado do ocidente e dos seus produtos, que mais uma vez vem a África para resolver os seus problemas sem se importar com as consequências daqueles a quem chama parceiros de cooperação mas que na prática são marionetes das suas jogatinas. Isso dói.
VERTICAL 17.05.2006