A Biblioteca Municipal da cidade capital está imprópria para ser usada. Devia ser um ambiente propício à actividade literária no seu sentido mais amplo, mas o local, situado no edifício do Paço do Município na cidade de Maputo virou um verdadeiro antro de ratos, baratas e todo o tipo de bicharada, nada adequado a quem pretenda dedicar-se à leitura de bons livros, que até lá existem. “A situação da biblioteca é de facto lastimável”, disse o Vereador da Cultura, Juventude e Desportos do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, João Jorge Matlombe, quando abordado pelo « Canal de Moçambique» sobre o triste cenário actualmente prevalecente naquele que devia ser um gabinete de leitura por excelência. No entanto, Matlombe escuda-se no facto de o actual cenário ter sido herdado das direcções anteriores como quem sacode água do capote e como se o Município fosse coisa para viver de ondas de grupo.
Segundo aquele vereador que é suposto ser da Cultura mas trata a cultura daquela forma que ali se pode ver, no passado, a Biblioteca Municipal nunca constituiu prioridade dos dirigentes da edilidade que em momento algum fizerem esforço de inverter a situação. “Repare que nos anteriores mandatos a Biblioteca Municipal era tutelada pelo sector de Salubridade”, defendeu-se assim o vereador. Pura loucura: uma biblioteca entregue à salubridade ou seja ao departamento dos dejectos... Só visto, contado ninguém acredita!!!
Na opinião do referenciado Vereador a Biblioteca Municipal está pelo menos 15 a 20 anos desfasada da realidade. Se não mais...
Entretanto, João Matlombe, usando um «cliché» já habitual em quem pouco ou nada tem para dizer, partiu para o campo das promessas futuristas pretendendo convencer-nos de que “tudo” está a ser feito no sentido de “inverter” o actual estado das coisas. Argumenta ter sido feito “um estudo no sentido de saber-se o custo de uma intervenção na estrutura física do local em que se concluiu que seriam necessários pelo menos 28 mil USD que, segundo ele, neste momento esse montante está acima das capacidades do Município”. E vai daí puxa da minuta habitual: “A solução deverá passar pela busca de parcerias com entidades privadas dispostas a financiar a referida obra”.
Datas para que uma solução devolva a dignidade ao espaço não há. “Ainda se está na fase de contacto com potenciais patrocinadores”.
Outros valores não quantificados foram referidos como ainda “não estimados, mas necessários a servir para a operacionalização da biblioteca e formação de pessoal qualificado”.
Enquanto a obra não acontece, o nosso interlocutor disse que uma série de livros ofertados ao Conselho Municipal da Cidade de Maputo por diversas entidades nacionais e estrangeiras foram retirados da biblioteca e estão armazenadas nas instalações municipais.
Facto curioso é que o chefe da Biblioteca Municipal é o escritor Pedro Chissano que já foi secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) e se prepara para, em breve, lançar o seu primeiro livro em prosa depois de mais de vinte anos de carreira.
Celso Manguana - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 24.05.2006