De Gêba (Memba) para Nacala- Porto
- Emergências de parto são as mais complicadas
Doentes, padecendo de várias enfermidades e em estado considerado de coma, são evacuados de barco à vela do Centro de Saúde de Gêba, distrito de Memba, para Nacala-Porto, onde existe uma unidade sanitária de referência, ao nível daquela região nordeste da província de Nampula.
O facto foi dado a conhecer por alguns populares e confirmado pelo respectivo director do centro, Orlando Simão Alves.
De acordo com aquele responsável, o cenário ocorre, sobretudo, quando a única ambulância do distrito se desloca à sede capital provincial em missão de serviço. E, quando se trata de emergência de parto, a mulher corre sérios riscos de perder a vida, eventualmente, devido à força do vento e o tempo que se leva para se chegar ao destino.
A fonte disse que, às vezes, os proprietários das embarcações aproveitam-se desta triste situação para extorquir dinheiro, efectuando fretes dos seus transportes a preços especulativos que ultrapassam os 50 mil meticais por pessoa, contra os habituais 10 mil que são aplicados a passageiros que se deslocam, normalmente, à cidade de Nacala.
Outro constrangimento tem a ver com a falta de água com que se debate aquela unidade sanitária.
O poço que abastece parte dos 17.589 habitantes de Gêba (censo de 1997) localiza-se a mais de um quilómetro do centro e, como consequência, os doentes ou seus acompanhantes são obrigados a transportá-la em baldes para satisfazer as respectivas necessidades.
Observe-se que as localidades de Miaja e Tropene enfrentam maiores dificuldades relativamente às de Geba. Pois que nem sequer possuem um posto de Saúde. Os doentes graves são transferidos de bicicleta para o centro de Saúde de Namahaca, enquanto os restantes servem-se da medicina tradicional como alternativa, conforme explicação feita por Faustino Omar e António Nampua, chefes das respectivas localidades.
Por seu turno, Adelino João Muaco, director do centro de Saúde de Namahaca, afirmou que a sua unidade sanitária debate-se, igualmente, com inúmeros constrangimentos relacionados com a componente humana.
Referiu, sem avançar números, que o centro trabalha com poucos agentes de serviço, de medicina geral e enfermeiros de nível médio. Na maternidade a situação é mais preocupante com a transferência, recentemente, de uma das parteiras. Estima-se numa média diária de 100 consultas externas, sendo malária, diarreias, má nutrição e doenças de transmissão sexual as mais frequentes.
Não obstante essas dificuldades, aquele Centro de Saúde é tido como tendo melhores condições em relação aos outros e à altura de efectuar até a transfusão de sangue, não fosse a falta da chamada cadeia de frio para efeito de conservação daquele produto indispensável à vida.
Em entrevista que nos concedeu, Adelino Muaco mostrou-se satisfeito com a disponibilidade da população em doar sangue, mercê de um trabalho de mobilização que está a ser desenvolvido pelas autoridades de saúde locais.
Refira-se que Memba conta com uma área de 5.250 quilómetros quadrados e uma população estimada em mais 210 mil habitantes, e possui apenas seis centros e cinco postos de Saúde.
WAMPHULA FAX – 30.05.2006