NÃO é muito habitual a saída de um director provincial, seja de que sector for, transformar-se numa festa de significativa faixa social, como está a acontecer desta vez, em Cabo Delgado.
Os operários da Texmanta devem pensar que nunca foi célere uma tomada de posição a nível governamental como desta, em que Gabriel Adolfo, o director denunciado publicamente como sendo um homem que se posiciona do lado do patronato, apesar de chefiar o sector que em princípio é para defender os trabalhadores, mereceu aquilo que eles estão a comemorar desde o dia 19 de Maio corrente.
O director que, como disseram, sempre disse que é doutor, acaba de "quedar", menos de um mês depois da denúncia, em pleno comício popular realizado no dia 16 do mês que ainda não acabou, na cidade de Pemba, orientado pelo presidente da República. Os membros do Governo provincial não devem ter ouvido o que aqueles operários disseram, porque estiveram ausentes, reunidos para "industriar" fórmulas extraordinárias que levassem a defender o relatório do Governo provincial, na reunião de balanço que na sessão de Chiúre havia sido classificada como "relatório de incumprimentos". Os martirizados operários da Texmanta telefonaram para confirmar, porque, na sua opinião, Adolfo foi durante muito tempo um dos empecilhos que se colocou a frente do seu problema, empolando-o até aos nossos dias e dizem que podem provar documentalmente, o que esperamos com justificada ansiedade. Coincidência ou não, os operários da Texmanta, e não só, acham que a sua preocupação terá sido favoravelmente acolhida por Armando Guebuza a quem agradecem, como se de facto Adolfo fosse um problemão. A direcção de Gabriel Adolfo deve ter tido momentos menos felizes. Trata-se daquela direcção que há três anos suspendeu três trabalhadores estrangeiros por serem ilegais, depois "ofereceu-lhes" a legalidade, mesmo sem terem preenchido os requisitos.
É verdade, eram da coutada da "Negomano Safaris", onde trabalhavam José Fitas, português, com passaporte F-167930, Abdul Moris, tanzaniano, com passaporte A-0038000 e Wolfgang Hessenkemper, alemão, cujo número de passaportes na altura não tinha sido possível apurar. Neste caso tinha sido o próprio Departamento de Inspecção da Direcção Provincial do Trabalho a indicar, em nota, que todos eles não possuíam contratos de trabalho autorizado pelo ministério respectivo.
A pergunta que ficou foi: como é que depois continuaram a trabalhar? Ainda há pelo menos um a trabalhar assim. Pode dizer sim ou não? Tratava-se, legalmente, de visitantes, com vistos para turismo, que estavam a trabalhar numa das maiores coutadas do norte de Moçambique e, para carimbar a incompreensão que a sociedade ainda mantém, a Direcção do Trabalho acabou viabilizando a que, Luís Santos, um português que não vive em Moçambique, tivesse um DIRE (Documento de Identificação e Residência de Estrangeiros). Como se consegue, quem consegue, porquê se consegue um DIRE? Em que momento Luís Santos residiu em Moçambique? Onde fica a sua casa em Cabo Delgado ou em Pemba? O que é que amordaça a Direcção do Trabalho quando se trata de defender interesses nacionais e de trabalhadores moçambicanos? Quantas queixas foram parar à direcção, de moçambicanos nas madeireiras, que têm à frente chineses (que desculpe Sérgio Vieira), por causa de maus tratos e da Macaloe?
PEDRO NACUO
PS. E vem aí um comboio de mexidas nas direcções do Turismo, Calamidades, Polícia e Recursos Minerais! Bem vindo Doutor Alberto Mussama, o indicado director provincial do Trabalho, mas sugerimo-lo a não vir como doutor, mas sim servidor do povo, dos interesses dos trabalhadores.
NOTÍCIAS - 27.05.2006