Por Vasco Fenita
Detentor de uma cultura sólida e multifacetada, com particular predominância no domínio museólogo, James Early desempenha presentemente a função de Director da Área Politica e Cultural no Smithsonian Institution (Instituto Smithsoniano), em Washington, DC.
Eary possui, também, uma vasta e relevante trajectória profissional, consubstanciada não só em mais de três décadas de exercício de docência do idioma espanhol em escolas secundárias e pré-universitárias, para além de inúmeras incursões empreendidas no interior e exterior dos Estados Unidos
da América, a fim de dissertar sobre a consistência e a integridade de culturas historicamente evoluídas, nomeadamente dos povos latinos, afroamericanos, americanos nativos e asiático-americanos do Pacífico. Sobre os quais, aliás, publicou já uma extensa bibliografia e proferiu incontáveis conferências nos próprios Estados Unidos e em diversos países estrangeiros.
Foi, pois, com esta personalidade de extraordinário carisma que tive a grata oportunidade de estabelecer um breve diálogo, centrado essencialmente nesta sua primeira presença nesta província e nas magistrais palestras (subordinadas aos temas “Política de Desenvolvimento Cultural e Desenvolvimento” e “Museologia Participativa”) que efectuou, no âmbito das celebrações do Dia Internacional dos Museus, cujas cerimónias centrais tiveram por palco as cidades da Ilha de Moçambique e Nampula.
James Early começou por me surpreender pelo seu vigor físico e jovialidade, pois que , tendo por referência o seu longo e notável currículo profissional, imaginava-o muito mais idoso, consequentemente alquebrado.
Depois, impressionou-me pela sua fluência comunicativa em português, quando a informação que eu dispunha era de que lecciona (ou leccionou) espanhol.
A este respeito, ele revelar-me-ia que foi uma questão de adequar o seu conhecimento do castelhano ao idioma português, sobretudo à particularidade da respectiva pronúncia.
No decurso do nosso diálogo (naturalmente, intermitente devido às constantes solicitações do turbilhão de pessoas que nos rodeavam), James Early acedeu a falar-me acerca do Instituto Smithsoniano. Revelou que foi “fundado no longínquo ano de 1846, pelo governo norte americano, através de fundos legados por um proeminente cientista inglês, de nome James Smithson, com o objectivo de apoiar a
educação pública e a concessão de bolsas de estudo nas esferas das artes, ciências e história.”
Sediado em Washington, o Instituto Simthsoniano comporta dezanove museus e sete centros de pesquisa, com 142 itens nas suas colecções.
O nosso distinto interlocutor disse-nos, ainda, que, à margem da sua participação na efeméride consagrada aos Museus, que irá aproveitar a oportunidade da sua presença no nosso país para reatar os contactos, iniciados há três anos (aquando da sua deslocação a Maputo), com as congéneres moçambicanas dos sectores que dirige no Instituto Smithsoniano, em Washington.
À nossa pergunta acerca das impressões que colheu da sua meteórica estadia na Ilha de Moçambique, James Early confessou-se-nos ter ficado agradavelmente impressionado não apenas com o extraordinário acervo histórico, de que aquela cidade é detentora, mas, também, com o exotismo da sua configuração física e com o tipicismo do “modus vivendi” das suas gentes.
-Sabe que se aventam novas perspectivas, assaz consistentes, para reabilitar a Ilha de Moçambique do confrangedor estado de degradação em que mergulhou?
-Estou a sabê-lo agora consigo.
De facto, é urgente que as boas vontades se unam em torno da recuperação daquele importante património histórico-cultural da humanidade. Mas, é imprescindível que, nesse processo, a comunidade residente não seja ostracizada ou subalternizada. Pois que e componente humana assume vital importância na relação metonímica. Portanto, a anunciada reabilitação da Ilha de Moçambique não alcançará os almejados desideratos se não privilegiar, simultâneamente, as duas vertentes.
WAMPHULA FAX – 23.05.2006