O «Ministério da Saúde» (MISAU) não possui condições para albergar os doentes mentais que deambulam pelas artérias da cidade capital, disse ao «Canal de Moçambique» a chefe do «Programa de Saúde Mental» naquele ministério, Maria Lídia Gouveia. Ao mesmo tempo ela afirma reconhecer que o Estado tem responsabilidade perante os doentes mentais. “Nós como hospital ainda não temos condições para albergar os doentes mentais que deambulam pelas artérias da capital”, disse.
Segundo Maria Gouveia, “o Estado como tal é chamado a intervir porque o facto de uma pessoa ser doente mental não retira a responsabilidade do Estado perante ela”.
Ela refere depois que o grande problema é, presentemente, o hospital psiquiátrico não possuir condições para garantir a cesta básica de alimentos para os doentes bem como fundos para financiar a compra de medicamentos que até muitas vezes não se encontram disponíveis na farmácia daquele hospital.
Perante o actual quadro, afirmou a chefe do Programa de Saúde Mental, os doentes são assistidos e depois são devolvidos às famílias, onde passam a receber acompanhamento. No entanto, segundo Maria Gouveia, só em caso de doentes com comportamento violento é se opta pelo seu internamento. Os não violentos sempre são encaminhados ao seio das suas famílias.
Fora as dificuldades atrás mencionadas, de acordo com a nossa fonte, é importante que se tome em conta que “os hospitais não são locais para os doentes mentais tomá-los como residência. São, sim, locais para receberem tratamento e acompanhamento com o objectivo de curá-los e prosseguirem as suas vidas na comunidade ou mesmo juntamente com a família”.
Segundo ela o abandono de doentes mentais nas zonas urbanas deve-se à falta de condições das famílias devido a dureza que caracteriza hoje a vida nas cidades.
“No campo as mesmas famílias não abandonam os doentes mentais ou as crianças portadoras de deficiência ou atraso mental do leito familiar”. “A vida nas cidades está mais cara e a família encontra dificuldades para cuidar um doente mental porque não traz nenhum rendimento e, pelo contrário, aumenta custos em medicamentos e assistência hospitalar”.
Ainda segundo a nossa interlocutora “devíamos ter um sistema de oportunidade de emprego para os doentes mentais como também uma cesta básica e subsídio da Acção Social porque as pessoas doentes precisam de muito apoio”. Gouveia disse ainda que “encontramos numerosos doentes mentais rua porque depois de algum tempo no hospital regressam a rua por falta de acompanhamento, por um lado da Acção Social e por outro da própria família porque não basta o acompanhamento do pessoal hospitalar. A família e a Acção Social devem também fazer o acompanhamento do doente porque o hospital apenas intervém, sobretudo, na parte do tratamento”.
De acordo explicação de Maria Gouveia, existem numerosos doentes mentais na rua devido à “fuga de responsabilidade por parte das famílias”. “Nós como hospital fazemos assistência e tentamos dar apoio psico-terapêutico”. “Depois do doente mental sentir-se melhor no sentido de não se encontrar nenhuma sintomatologia aguda do ponto de vista psiquiátrico damos alta de modo a que retorne ao leito da família e continue o tratamento ambulatório nas consultas”.
Gouveia disse que as consultas primeiramente são mensais. Depois, conforme a evolução do conhecimento da saúde do doente e do acompanhamento que se faz, ele deve voltar ao hospital, de três em três meses.
Num outro desenvolvimento Gouveia disse que são inúmeros os casos em que a família abandona os doentes mentais e estes recorrem à rua como seu local de vida. “Uma vez abandonados os doentes mentais e tendo a rua como seu habitat, dificilmente retornam ao hospital por causa da doença”.
Entretanto...
Entretanto, uma chefe de departamento da Direcção da Mulher e da Acção Social, (DMAS) em Maputo, Maria Alice Ribeiro, disse que a sua instituição não dispõe de fundos financeiros para apoiar os doentes mentais que deambulam nas ruas.
“Debatemo-nos com exiguidade de fundos para apoiar os doentes mentais que se encontram nas ruas”, disse. Acrescenta ainda que para demonstrar as supostas dificuldades que a sua instituição enfrenta para apoiar os doentes mentais, a Direcção da Mulher e da Acção Social só conseguia garantir para os idosos e apenas às sextas feiras um “magro” kit alimentar porque também o recebia da Comunidade Muçulmana. Como a Comunidade Muçulmana “deixou de prestar essa ajuda, neste momento, a sua instituição parou também com o apoio aos idosos às sexta-feira”.
“Essa é a razão porque vemos toda sexta-feira numerosos idosos, crianças e doentes mentais a deambularem pelas ruas”.
É caso para se concluir que as estruturas que o Estado cria para atenderem situações para as quais entretanto não conseguem encontrar solução por “falta de verba” e porque os outros deixam de pagar, talvez seja melhor o Governo começar a pensar, com cabeça de pensar, e fechá-las. Afinal não passam de instituições que só consomem os nossos impostos.
Conceição Vitorino -CANAL DE MOÇAMBIQUE - 31.05.2006