Centenas de milhar de camponeses em risco de ficarem sem rendimentos no Sul do país
Várias empresas, designadamente das cidades de Maputo e Matola tiveram – algumas ainda têm – aparatos tecnológicos ao seu serviço cuja força motriz resulta da queima de nafta, um derivado do crude (petróleo bruto). Todas elas juntas permitiam que se importassem lotes de nafta de cujas operações de aquisição pudesse resultar um preço mais em conta.
Como algumas delas reconverteram os seus velhos aparatos tecnológicos a nafta em outros que consomem gás, as restantes que se mantiveram impávidas hoje não são suficientes para justificar importações de volumes que em escala ajudem a manter um preço moderado. O resultado para os gestores que andaram “distraídos” é que hoje o preço da nafta é de tal forma alto que inviabiliza o negócio ou actividade de quem ainda a usa. As empresas que em tempo oportuno reconverteram a sua maquinaria de forma a que deixassem de utilizar nafta para passarem a utilizar o gás, prosseguem a sua actividade normalmente e sem sobressaltos.
Durante anos consecutivos a «British Petroleum (BP)» importou nafta com que abastecia certas industrias moçambicanas e ainda hospitais. A certa altura, quando se começa a falar do gás de Temane, a «BP» avisou os seus clientes que iria deixar de vender, logo, iria para de importar, nafta. E assim fez. A «Petromoc» pegou no negócio e deu-lhe seguimento. Agora é a própria «Petromoc» que está a escrever cartas aos seus clientes de nafta a dizer-lhes que vai subir o preço em 100%.
A «Petromoc» alega que o consumo actual é reduzido e não justifica o fretamento de navios para a importação da nafta. De acordo com as actuais necessidades do mercado a importação de nafta só faz sentido por via rodoviária. Esta via obriga a custos de tal ordem que para a «Petromoc» continuar a assegurar fornecimentos às unidades que ainda consomem nafta sem ter de suportar prejuízos que não lhe dizem respeito, ela vê-se obrigada a aumentar o preço.
De acordo com os termos das cartas que a «Petromoc» está a dirigir aos seus clientes de nafta, esta passará a custar o dobro. Antes do aumento o preço da nafta cifra-se em dez mil meticais o litro (10,00 MTn/Lt). Entre as empresas que deixaram de consumir nafta pode-se citar a título de exemplo a «MOZAL», fundição de alumínio, e a «FASOL», produtora de sabão e óleo alimentar. Estas e outras já estão a usar gás natural de Temane. O fornecedor é a empresa «Matola Gás».
A «Carmoc», produtores de embalagens de cartão, vai em breve deixar de usar nafta para passar a usar gás, mas numa fase transitória usará GPL (Gás Propano Líquido) a ser fornecido pela «GALP».
Entre as empresas que não cuidaram do futuro que já se podia há cerca de dois anos atrás prever que seria como o que hoje está a verificar-se, o dilema é que com um agravamento de 100% do combustível que usam nas suas caldeiras, os custos de produção serão tão elevados que a sua produção final acabará cara, pouco competitiva, em suma, todos os condimentos para uma falência anunciada.
O consumo do gás, de acordo com empresários ouvidos pelo «Canal de Moçambique» além de mais barato é menos poluente do que a nafta.
As empresas que até agora não reconverteram os seus meios de produção de nafta para gás, mudar hoje implica fechar as portas durante o tempo necessário para procederem às devidas requalificações dos equipamentos. É este o dilema. Observámos dois exemplos: um que já faz a reconversão de natfta para gás e outro que foi surpreendido.
Ginwala
Na Ginwala falámos com o Eng. Nelson Benfica. Segundo ele a situação que se avizinha para a sua empresa é negra. “Fomos apanhados desprevenidos. A nafta é um importante factor nos custos de produção e não estamos em condições de suportar um aumento na ordem dos 100%”, disse.
Nelson Benfica acrescentou que um aumento dessa grandeza significa fechar as portas. “Teremos de fechar e com isso prejudicarmos os camponeses produtores da copra e mafurra”.
O director comercial daquela empresa diria ainda que a «Ginwala» é a principal compradora de copra e mafurra do Sul do país. “Nós somos os principais comprador da zona sul de copra e mafurra.”
Por outro lado, a mesma fonte refere que a própria reconversão dos equipamentos para se adequar a empresa a usar gás como combustível para operar com as suas caldeiras implica “forçosamente fechar por um período de uns seis meses”.
Num outro desenvolvimento, Benfica esclarece que “o Governo deveria, se for o caso da «Petromoc» avançar com o aumento, subsidiar os custos da nafta, enquanto nos preparamos para a realidade do consumo do gás”.
Aliás, Benfica adiantou ao «Canal» que a «Ginwala» dirigiu uma carta ao Ministério de Energia com vista a um possível entendimento.
Carmoc
Enquanto isso, Mateus Gonçalves, da «Carmoc» ao falar com o «Canal» estava mais sossegado. Segundo ele, já desde o ano passado, com a experiência da «BP» quando esta acaba por entregar o negócio da nafta à «Petromoc», a sua empresa começou a trabalhar na reconversão de equipamentos de produção. Daí que dentro de duas semanas prevê passar a usar gás (GPL) da «Galp». Isto, segundo Gonçalves depois para passar a usar gás da «Matola Gás». “Gás da GALP só enquanto esperamos pelo gás natural a ser fornecido pela «Matola Gás». O uso do gás é mais rentável que a nafta. É ainda menos poluente”.
João Chamusse - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 22.05.2006