Texto de uma leitora portuguesa do jornal O Autarca, em Portugal
(Texto em tom de Desabafo enviado por uma Portuguesa nascida no Moçambique colonial (na Beira). Saiu de Moçambique com os Pais em 1973. Cresce no Brasil e actualmente a viver em Portugal no Norte. Filha de Pais Portugueses nascidos no Norte de Portugal. Dalena se indigna com a realidade do Portugal de hoje…mas poderia também, estar a “falar” de Moçambique se lá vivesse!)
Levaram de tal maneira a frase do “Tio Zeca Afonso”que se ele hoje fosse vivo estaria arrependido!
Vejo um povo analfabeto, falando sem civismo nenhum, malcriado, sem o sentido do certo ou do errado!
Confundiram a liberdade de expressão, em maledicência do outro!
Os que se ajudavam na ditadura de Salazar, hoje, abatem os seus idosos na solidão; o seu vizinho na fome; o seu filho na rua, por ter caído na malha da droga "pesada"!
Meu Deus, para aonde caminha esta democracia?
Eu costumo dizer que hoje os tempos são de uma ditadura criada pelo próprio povo!
Aonde está o respeito por aqueles que lutaram e até morreram, para que hoje pudéssemos ir às urnas em liberdade? O que valeu tanto sacrifício? Eu, como muitos, sou filha desse sacrifício! O meu Pai (Jornalista), esteve sempre à frente da liberdade, deixando os seus filhos muitas vezes sem a presença física dele que nos era tão querida! Nós entendíamos a sua ausência e até nos orgulhávamos dele. Ele (meu pai), tinha um grave problema de coração, a que o seu médico mandava-o ter o máximo repouso e poucas aflições (chatices), coisa que ele jamais respeitou, para que a liberdade dos Moçambicanos acontecesse e assim, junto, viria a de Portugal, sua terra de nascença!
Hoje, depois de eu viver catorze anos em Portugal, me pergunto, valeu a pena Pai? Valeu a pena teres morrido numa luta, para que o povo passado trinta anos, não tivesse percebido nada da tua (vossa) luta? Serei eu a complexada do sistema? Incomodarei eu, como você meu Pai, incomodava a ditadura Salazarista? A luta continuará sempre, enquanto houver um ser Humano a viver em desigualdade e sem dignidade, a que todos temos direito! A mim não me fecharão a boca, assim como não o farão à minha escrita! Terão que me matar, para me calarem! Não tenho medo, e esse deverá ser o meu pior defeito!
O AUTARCA – 22.05.2006