por Dr. Eng.º João Salomão
(...). É bem sabido que a gestão da terra não é do seu pelouro, senhor Ministro do Turismo. Contudo, devemos referir as dificuldades que temos vivido para obtermos a licença especial que deve ser emitida pelo Ministério do Turismo, por factores externos ao Ministério. Também devemos transmitir a nossa opinião de que o Governo deve ser mais interventivo em situações de concessões cujos termos e prazos não estejam a ser cumpridos, como sabemos estar a acontecer no Arquipélago das Quirimbas. Este é um tema onde é necessário prosseguir a reflexão, transmitindo as nossas ideias a outras instâncias.
A situação de segurança na Cidade de Pemba tem vindo a degradar-se seriamente nos últimos meses. O arrombamento de residências a altas horas da noite e a ameaça a seus ocupantes com armas de fogo, os assaltos à mão armada a viaturas e os esfaqueamentos a residentes locais, incluindo a turistas, obrigam a uma resposta pronta e inequívoca do Governo, que reprima e desencoraje a actual vaga de criminalidade e leve mesmo à sua completa eliminação.
Vemos, com apreensão, a actual situação do transporte aéreo em que as altas tarifas praticadas e a ausência de rotas directas nos prejudicam e são um factor impeditivo a uma posição competitiva das nossas estâncias. Porque vir a Pemba, se se pode ir a outras estâncias no Oceano Índico ou no Extremo Oriente, sem ter de sofrer as amarguras de trânsito em Joanesburgo e Maputo antes de chegar ao destino, ou então trânsito em Nairobi e Dar Es Salam quando, se pode ir ao destino final directamente, através de um voo comercial directo ou um voo charter, a muito melhor preço? Porque vir a Moçambique, às Quirimbas ou aos nossos parques no Niassa, se os operadores já estão preocupados com o risco de não conseguirem transportar os seus turistas uma vez que não há «AVGÁS» no País ou a Norte do Rio Save? Neste dramático cenário, podemos não conseguir levar os hóspedes para as ilhas ou às reservas e trazê-los de volta, quando estes já se encontrem nas ilhas ou nas reservas. Porque é que o turista vai aceitar ser transportado de barco quando tem uma reserva e pagou para o trajecto de Pemba a uma das ilhas de avião e agora lhe é oferecido um trajecto de barco? E quando seja um turista para a reserva de Luwire ou do Lugenda, a falta de AVGÁS significa que não há alternativa, a não ser que se vá fretar um helicóptero a preço bem mais elevado. Ontem, vimo-nos forçados a fazer a aquisição de AVIGÁS em Maputo e tivemos que fretar um camião para o trazer a Pemba.
A actual regulamentação a quem serve? Aos operadores nacionais ou às empresas de aviação em situação de monopólio ou quase, por deterem uma rota internacional, se casos há de detentores de rotas que nem sequer tem um avião?
O Governo lançou e damos todo o nosso apoio à campanha de consumo de produtos nacionais e de promoção de exportação de produtos nacionais. Mas nós, provedores de serviços engajados na promoção do consumo dos nossos serviços e na divulgação das nossas belezas para que nacionais e estrangeiros desfrutem delas em cada um dos locais, não poderemos contribuir para esse nobre projecto sem a intervenção e liderança do Governo na remoção dos obstáculos que enfrentamos. As altas tarifas de ligações aéreas não defendem o interesse nacional, e antes pelo contrário, são uma promoção de alternativas a Moçambique, em nosso detrimento, desviando os turistas para outros destinos.
Gostaríamos de ver o Governo a assumir uma posição mais activa que pudesse ajudar a alterar a presente situação, através da reformulação das regras de operação e de concessão de licenças de operação aérea, promovendo-se uma maior concorrência que, como resultado, irá traduzir se por um aumento da oferta e pela prática de preços mais baixos. Sem dúvida, os passageiros e, no nosso caso, turistas, ficarão a ganhar e irão, com certeza, fazer mais turismo interno, deixando de ter como quase única opção a vizinha África do Sul.
Por outro lado, também é importante que os operadores se unam e falem com uma única voz ao Governo. Que estes concertem posições e saibam ver de forma não individualizada onde se situam os reais interesses do sector.
Só assim, conseguiremos alcançar o nosso objectivo de pôr as nossas unidades no mapa internacional do turismo de qualidade.
Temos todas as condições: destinos não poluídos, com grande beleza natural, ainda intacta, espectacular e abundante fauna bravia, um mosaico de culturas diversas e gentes afáveis e o potencial de poder transformar Nampula, Niassa e Cabo Delgado, onde estamos a operar, em destinos a nível mundial dentro dos próximos anos..
NE: Extracto da intervenção do Dr. Eng. João Mário Salomão, em Pemba, capital de Cabo Delgado, no seminário subordinado ao tema: “Dialogo sobre Turismo”. O título é da responsabilidade do «Canal de Moçambique».
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 23.05.2006