"Áreas sem governação" em Angola e Moçambique, "onde são traficados diamantes, armas e drogas cujo comércio ilícito é passível de financiar o terrorismo" estão a preocupar as autoridades norte-americanas, disse a subsecretária da Defesa para os Assuntos Africanos. Numa conferência em Lisboa sobre "A Política dos Estados Unidos em África", Theresa Whelan centrou a sua intervenção nas chamadas "áreas sem governação", definidas como "terras de ninguém, remotas e opacas por escaparem à capacidade de controlo dos respectivos governos".
De acordo com a responsável pela política de Defesa do Pentágono para a África Subsaariana, que falava no Instituto de Defesa Nacional perante uma audiência maioritariamente formada por altas patentes militares e diplomatas, as "áreas sem governação" são "espaços de eleição para o terrorismo internacional". Whelan não escondeu que a comunidade internacional está a viver um "tempo perigoso" nos planos político, económico e militar, cuja "imprevisibilidade" só tem paralelo histórico com o período entre as duas guerras mundiais.
Segundo Whelan, "África não se encontra, neste momento, no centro da agenda norte-americana, embora também não esteja à margem dela", mas "o clima internacional pós 11 de Setembro de 2001 faz com que o Pentágono se detenha nas áreas sem governação", com ênfase nos países totalitários. Para a configuração deste quadro indicou a "persistência da crise política, económica e de segurança na África Subsaariana, o grave problema da corrupção, e a debilidade dos Estados para protegerem as suas fronteiriça e fazerem prevalecer o império da lei". Face a uma "maior dificuldade de previsão" das situações anómalas, Whelan defendeu o "imperativo de formular a tempo medidas preventivas" e, também, o "trabalho em parceria".
A subsecretária norte-americana identificou "áreas sem governação" na fronteira entre a África do Norte e o Sahel (grande zona desértica que atravessa transversalmente o continente), no Golfo da Guiné, Senegal, Angola, Delta do Níger (Nigéria), norte do Mali, Sudão, Somália, fronteira do Quénia, norte de Moçambique, África do Sul e Canal de Moçambique. Sendo a maior prioridade do Pentágono "a guerra contra o terrorismo e a proliferação de armas de destruição maciça (ADM)", com ajudas expressamente destinadas a este objectivo, mas também à "segurança marítima", e ao "treino militar e educação", Whelan avançou com um conjunto de propostas de solução das quais, a principal, é "estimular os governos a assumir as suas responsabilidades".
A concluir, a subsecretária norte-americana deixou para reflexão oito desafios para quem trabalha com África: "Estar ciente das diferenças culturais, do fenómeno da corrupção, da falta de cuidados de saúde e da SIDA, do analfabetismo, do mau funcionamento das instituições democráticas e do sistema judicial, além da pobreza generalizada".
(Lusa) CANAL DE MOÇAMBIQUE - 26.05.2006